Crítica: Avalanche (dir. Leandro Alves)

Texto: Roseane Monteiro. Revisão: Janderson Felipe.

O curta de ficção Avalanche destrincha o ambiente rural, o conflito de gerações e a violência. Com uma trilha sonora misteriosa e pulsante que mistura batidas secas percussivas e flautas doces, faz dessa combinação o prenúncio de que alguma coisa está por vir, pois a trilha está incorporada antes mesmo da aparição das imagens. Posteriormente, Leandro Alves escolhe planos gerais e panorâmicas para nos inserir em um povoado do interior nordestino que ainda tem a forte presença da religiosidade, por isso temos imagens de cruzes, santos, romarias e os sons de preces.

O filme se passa no período de festa de Santa Luzia em uma cidade do interior de Alagoas. Um folguedo chamado O bando passeia por povoados em meio a suas plantações, todos mascarados e com roupas por cima deixando suas identidades não reveladas, e acompanhado de uma banda de pífano. A presença do bando nos deixam aflitos e maravilhados ao usar câmera lenta, quando vemos O bando, observamos os movimentos e detalhes de cada ação dos mascarados, nos apresentando uma fotografia belíssima e com enquadramentos centralizados.

Em Avalanche também podemos observar a dicotomia entre o velho e o novo inserido nas visões de mundo entre Pico (Rafael Nicácio) e o seu Pai (Alex Gomes); que é acentuada principalmente pelo o fato de bandidos invadiram a casa onde moram, deixando a mãe de Pico (Joana Marques) amedrontada e desejando à morte dos bandidos. Graças a esse fato conseguimos distinguir mais a personalidade das personagens:  Pico não ajuda na roça, tem receio de matar animais, acorda tarde, não sabe tocar instrumentos típicos da região, é avoado, anda de skate e quer curtir a vida adoidado como o seu amigo Luciano (Luciano Pedro Jr). O Pai almeja que Pico seja responsável, se torne um homem de “verdade”, assuma a sua rigidez para lidar com o outro e trabalhe com os negócios da família. A mãe tem poucas falas no filme, mas pelo trabalho de corpo de Joana Marques percebemos uma mulher simples, acanhada e que foi criada para servir o marido e o filho.

As nuances entre pai e filho ficam mais marcantes principalmente pelo ambiente ser o rural, porque Pico traz essa rebeldia urbana, com seus cabelos cacheados e cheios, sua barba por fazer, andando de bermuda e sem camisa. Em contraponto ao Pai de cabelos curtos, camisas de botão e barba bem aparada, nos remetendo ao visual típico dos moradores de pequenas cidades nordestinas.

Sempre morei em Maceió, por isso, tenho o meu imaginário sobre o que seja uma cidade do interior. Lógico que cada um têm suas memórias afetuosas, estereótipos vivos em nome da tradição e particularmente na crença de encontrar o bucólico. Esquecendo, talvez, das transformações inerentes a esses espaços, causados pelas invasões dos Shopping Centers, dos Cinema exs da vida, da internet via wi-fi, bandas Pops, dos smartphones, dos condomínios e da violência típica dos grandes centros. E por isso, que Avalanche exterioriza, cospe para fora, essas mudanças e nos mostra como tudo está interligado até nos seus míseros detalhes.

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