Cinema alagoano retorna ao Festival de Brasília após 32 anos

Texto de Rafhael Barbosa (Alagoar). Fotos: Divulgação.

Depois de 32 anos, o cinema alagoano retornará à tela do mais tradicional evento do cinema brasileiro, o Festival de Brasília. Anunciada na segunda-feira (07), a seleção da 50ª edição do evento trouxe “As Melhores Noites de Veroni”, de Ulisses Arthur, entre os 12 curtas-metragens que competirão pelo troféu Candango.

O último filme que representou o estado em Brasília foi “Memória da Vida e do Trabalho“, de Celso Brandão, que concorreu na Competitiva de 1985 (18º FBCB) entre os curtas 16mm. Também dirigido por Celso, “Ponto das Ervas” participou do festival em 1978 e saiu do certame com o prêmio de melhor trilha sonora. Em 2008 foi a vez do brasiliense radicado em Alagoas Werner Salles receber o Candango de melhor roteiro pelo longa “Tudo Isto Me Parece um Sonho”, de Geraldo Sarno. O filme, no entanto, é uma produção baiana.

O retorno é simbólico e reflete o atual cenário da produção local. Realizado com recursos do prêmio Guilherme Rogato da Prefeitura de Maceió ( 2015), “As Melhores Noites de Veroni” se destaca dentro de uma safra que tem marcado presença em outros importantes festivais nacionais. Também contemplada no Guilherme Rogato, a ficção “Os Desejos de Miriam”, de Nuno Balducci, iniciou sua carreira no Figueira Film Art, em Portugal, e foi exibido no último festival de Anápolis. Já o Festival de Vitória, cuja seleção foi divulgada no último dia 2, apresentou duas produções alagoanas em sua grade. O documentário “Wonderfull– Meu eu em Mim”, de Dario Júnior, também proveniente do edital municipal, participará da mostra Quatro Estações. Já o curta independente “Eu Me Preocupo”, de Paulo Silver, fará sua première nacional na competição oficial do evento.

Mesmo com o evidente retorno do investimento, a Fundação Municipal de Ação Cultural – Fmac não deu continuidade ao edital em 2016 e, segundo consulta feita pelo Alagoar, não apresenta previsão para uma nova edição. A entidade Informou que está em processo de captação de recursos para o Fundo Municipal de Cultura, que irá subsidiar novos editais.

Nascido em Viçosa, o diretor Ulisses Arthur, de 23 anos, atualmente conclui o curso de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em Cachoeira.  O Alagoar conversou com o jovem cineasta sobre a conquista de seu filme de estreia. Leia a entrevista a seguir.

Qual o sentimento de estrear em Brasília?

Fico super feliz. Acho que o filme ganhará uma  enorme repercussão por Brasília ser um festival consolidado e que tem uma forte discussão crítica ao redor. Além de ser uma excelente janela pra divulgar o trabalho do profissionais que estão nele e aumentar as possibilidades de continuar fazendo filmes.

O que te motivou contar essa história?

A história surgiu de uma rua que morei no interior da Bahia. Na vizinhança eu via apenas as mulheres e os filhos, nunca os maridos, mas à noite eu sabia que eles estavam em casa porque todos os carros estavam estacionados nas portas. Um desses vizinhos era caminhoneiro, então o mote inicial pra escrever esse roteiro foi pensar essas relações que existem à distância e que vão esfriando com o tempo. Esse filme também vem de percepções sobre o cotidiano em família, pequenos gestos que podem ser sintomáticos sobre as tensões e relações de diferença. Mas tudo isso foi se transformando e se adaptando ao contexto urbano de Maceió.

Que cineastas te influenciaram?

Nesse filme houve uma investigação de filmes protagonizados por mulheres pra criar um repertório de dinâmicas de cena como o filme “Abismo prateado”, do Karim Ainouz, e das protagonistas mulheres dos filmes da Lucrécia Martel. Também gosto muito de ver as produções de perto e como eles filmam contextos muito próximos ao meu, daí a gente tem uma grande influência como o cinema pernambucano contemporâneo.

Como você vê a importância do prêmio Guilherme Rogato?

Como venho de contexto universitário, o prêmio possibilitou uma estrutura melhor pra que a gente produzisse com mais tranquilidade e com recursos pra aprimorar as ideias. Acho importante esse prêmio porque ele fortalece toda uma cena, realizadores, atores, fora os novos profissionais que surgem no processo. Esse prêmio é uma oportunidade sobretudo de experimentação e maturação do olhar.

O que pensa sobre o edital não ser lançado ano passado nem esse ano?

De fato é uma situação complicada e que perturba um pouco. Nos últimos anos a nossa produção tem ocupado espaço nos principais festivais brasileiros e em alguns internacionais, mostrando a qualidade dos filmes feitos aqui. Mas como acontecem hiatos entre um edital e outro, o desenvolvimento da cena tem sido muito mais lento do que poderia, impedimento a consolidação de uma cadeia produtiva profissional. É como se o poder público sabotasse suas próprias ações, fazendo com que elas não se desenvolvam de fato. Mas o filme amadureceu muito com o tempo, de verdade. O roteiro passou por uma consultoria e a montagem foi longa e durou cinco meses.  A gente conseguiu transformar os atrasos em aprendizagem, foram muitos corres.

 

AS MELHORES NOITES DE VERONI

Sinopse:

Enquanto seu marido passa os dias na estrada, Veroni encontra nas noites uma forma de transcender e responder seus dilemas amorosos.

Ficha técnica:

Elenco: Lais Lira, Jorge Adriani, Sofia Bomfim e Fátima Menezes
Roteiro e Direção: Ulisses Arthur
Ass. de Direção: Débora Raquel
Produção executiva: Thamires Vieira
Produção: Amanda Duarte e Arlindo Cardoso
Direção de Fotografia: Liz Riscado
Ass. de Fotografia: Augusto Daltro
Direção de Arte: Lucas Cardoso
Ass. de Arte: Jéssica Conceição
Direção de som: Érica Sansil
Ass. de Som: Luan Cardoso
Montagem: Rudyally Kony e Ulisses Arthur
Finalização: Paulo Silver
Mixagem: Emmanuel Miranda

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