Crítica: Colapsar (Direção Coletiva)

Texto: Luiz Henrique de Carvalho. Revisão: Larissa Lisboa.

Deve ser uma arte

O curta-metragem experimental Colapsar é um verdadeiro ensaio sobre a arte, tensionada pelos confrontos entre erudição e expressão popular, entre estranhamento e clareza. Em breves 12 minutos, o filme consegue sintetizar de maneira muito sagaz o que se pretende estudar, por exemplo, num semestre inteiro de uma disciplina de estética. Justo porque através das interpretações e comentários dos transeuntes, é possível captar – e colapsar – as impressões mais autênticas sobre o entendimento da arte e sua expressividade.

Um dançarino de figurino escuro se põe no meio do centro de Maceió e inicia sua performance de dança silenciosa, narrada pelos comentários das pessoas que passam em volta e complementada por toda a ambientação sonora da locação: carros, locutores de promoção, ruídos urbanos, etc. A fotografia entrecortada entre uma lente olho de peixe e ângulos mais fechados destacam a dicotomia que representa a arte. É próxima, mas também distante.

A maioria daquelas pessoas que passeiam pelo centro nunca tiveram contato com um consumo cultural como aquele, e isso se evidencia no que falam a respeito da performance. “Deve estar pegando espírito”, diz uma das vozes anônimas. “É macumba”, diz outra. “Deve estar cheirado de pó”, comenta outra. Outras pessoas, porém, buscam compreender a expressão artística presente naquela performance: “é dança? mas sem música? é um ator? está fazendo o papel da morte?”. Isso demonstra que há assim um letramento artístico, ainda que raso, na cultura popular. O que falta a essas pessoas é repertório. Precisam ter mais contato com essas expressões de arte, e essa é justamente a proposta do filme: o dançarino vai às ruas do centro e abastece aquelas pessoas com uma pequena pílula de subjetividade artística e erudição, que a meu ver, cumpre o seu papel efetivo enquanto arte: provoca e gera questionamentos. O estado de dúvida das pessoas e as diversas divagações são a prova de que o impacto cultural daquela performance artística foi concretizado.

Enquanto nos estudos de estética temos que analisar o que escreveram sobre arte e as subjetividades de diversos aristocratas eruditos, presos nas amarras academicistas que muitas vezes mais afastam do que aproximam, temos em Colapsar o estudo mais honesto sobre a estética da arte: a performance em contato direto com o povo.

Preciso confessar que tenho pouco domínio sobre as expressividades do corpo, mas a performance do dançarino seduz a atenção do espectador mesmo com a ausência de uma trilha sonora musical, porque há sim uma trilha sonora de ruídos e vozes anônimas que dão cadência à performance artística.

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