Crítica: Ressonância (dir. Fabiana de Paula)

Texto: Lucas Litrento. Revisão: Chico Torres.

Vibração do Simples

Como o filme Ressonância transita entre a poesia e o melodrama para mostrar a relação de mãe e filha

A relação entre uma mãe e a sua criança é feita de espaços vazios, silêncios que não se acabam, olhares que dizem muito, essas nuances; é assim com todas as famílias. Nessa ligação, desde os tempos de gravidez, há coisas que só as duas pessoas decodificam. É uma sintonia que vibra numa frequência única, somente audível para ambas. Ressonância particular.

Essa simbiose é o centro de Ressonância (2017), curta-metragem dirigido por Fabiana de Paula, exibido no primeiro dia da VIII Mostra Sururu de Cinema Alagoano. O filme acompanha o cotidiano de Luisa, criança com deficiência auditiva, e sua mãe.

A diretora, que também assina o argumento, usa o som como uma extensão da protagonista. Ouvimos como Luisa e isso gera um efeito positivo, nos aproximando das personagens. Há o cuidado em estabelecer a história logo nos primeiros segundos. É o que se espera de uma narrativa de curta duração, mas aqui vemos que essa necessidade também se dá pela própria Luisa.

A química entre as duas é feita com pouco. Olhares atravessados, o toque, a boneca da caixinha de música. No primeiro “ato” isso funciona. Há veracidade no que vemos, afinal são mãe e filha de verdade. Mesmo contando uma história específica, a diretora consegue universalizar as personagens, principalmente a mãe (que é creditada apenas como “mãe”, o que reforça ainda mais esse caráter de empatia).

Mas transitar no melodrama é um movimento perigoso. Em alguns momentos, a obra cai em lugares comuns que não são inovadores, o que, de certa forma, quebra o que estava sendo construído desde o início. A princípio, como dito acima, de forma muito concisa, o filme é econômico. Filha, mãe, o som, o brinquedo. A narrativa já começa antes da imagem: a melodia da caixa de música. Um recurso muito simples, mas que funciona mais do que qualquer outra coisa em toda a obra. É isto, falar muito com poucos elementos, é como escrever um poema.

Há os poemas carregados de melodrama, os que falam demais. No final, o filme desanda por essa vertente. Embora não perca sua essência, a narrativa sofre uma leve quebra de ritmo. No entanto, isso não reduz a simbiose entre as duas personagens. O recurso da montagem não é tão evidente e o filme perde a força que teria se fosse contado em media res ou seguindo a linearidade cronológica.

Com uma visão sincera de duas mulheres, em idades diferentes, em conflito, o filme funciona de maneira sensorial nos primeiros minutos. A emoção, elemento difícil de ser orquestrado em qualquer narrativa, não foi bem distribuída. E o ato de violência perde sua força, por estar inserido na parte mais fraca do filme. A força reside nas personagens e na simplicidade do começo, os lugares comuns não ajudaram a obra, quebrando um pouco o tom.

Somos apresentados às personagens de uma maneira muito física. E essa fisicalidade muito pessoal que permeia na forma do filme é interessante. A diretora consegue passar a veracidade das duas, isso é fato. Mesmo que o ato climático tenha perdido força, pela escolha de decisões que reforçam o melodrama, o filme ressoa, com alguns tropeços.

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