“Redemoinho” marca estreia do diretor Luiz Villamarim no cinema

Júlio Andrade e Irandhir Santos protagonizam o longa. Crédito: Walter Carvalho
Texto: Assessoria Arte Pajuçara.

Diretor das séries “Nada Será Como Antes” e “Justiça”, José Luiz Villamarim retoma a parceria dos sucessos “O Canto da Sereia”, “Amores Roubados” e “O Rebu” com o roteirista George Moura em “Redemoinho”, longa de estreia de Villamarim. O filme, em cartaz a partir da quinta-feira, 09, no Arte Pajuçaa,  ganhou o Prêmio Especial do Júri Oficial e o de Melhor Ator para Julio Andrade no Festival do Rio 2016. No Festival de Havana, esteve presente na seção oficial Opera Prima, e também participou da 40ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Também fez parte da 10ª Mostra de Cinema de Belo Horizonte.

Clique aqui  para ver o trailer de “Redemoinho”.

O longa mostra o reencontro dos grandes amigos de infância Luzimar (Irandhir Santos) e Gildo (Julio Andrade), que cresceram juntos em Cataguases, no interior de Minas Gerais, mas ficaram muitos anos afastados. Luzimar trabalha em uma fábrica de tecelagem e nunca saiu de sua cidade. Gildo mora em São Paulo e acredita ter se tornado um homem mais bem sucedido. Na véspera do Natal, Gildo chega a Cataguases para ajudar a mãe, Dona Marta (Cássia Kis), a vender a casa da família. Já Luzimar, casado com Toninha (Dira Paes), por quem é apaixonado, tenta guardar de todos um segredo. Mas a volta do velho amigo pode mudar seus planos e lançá-lo em um arriscado acerto de contas.

“Redemoinho fala do conflito e da angustiante dúvida sobre quem fez a melhor escolha: aquele que partiu da cidade onde nasceu ou aquele que escolheu ficar”, define Villamarim. “Gildo sai de Cataguases, mas Cataguases não sai de dentro dele. Também é uma história sobre a amizade e a implosão dos laços de afeto familiares, que traz uma série de questões sobre esse país em transe no qual vivemos nos dias de hoje.”

Rodado ao longo de dois meses na cidade de Cataguases, na Zona da Mata mineira, a 320 km de Belo Horizonte, Redemoinho conta ainda com as participações de Camilla Amado, Cyria Coentro, Démick Lopes e Inês Peixoto. O filme é baseado no livro Inferno Provisório – O Mundo Inimigo Vol. II, do escritor mineiro Luiz Ruffato.

Além da dupla Villamarim/Moura, outros parceiros habituais das séries colaboram no filme. A fotografia é de Walter Carvalho, o mesmo que assinou luz e câmera de “O Canto da Sereia”, “Amores Roubados” e “O Rebu”, além de ser responsável pelas imagens de “Central do Brasil”, “Amarelo Manga”, “O Céu de Suely”, entre muitos outros. A direção de arte é de Marcos Pedroso (“Praia do Futuro”, “Que horas ela Volta?”), e a montagem, de Quito Ribeiro (“Tim Maia”, “Bróder”).

O longa é uma produção da Bananeira Filmes, responsável por filmes premiados no mundo todo como “O Palhaço”, “A Festa da Menina Morta”, “Mate-me Por Favor” e “Deserto”. Globo Filmes, Telecine e Canastra Produções assinam a coprodução e a Vitrine Filmes (“Aquarius”, “O Som ao Redor”) é a distribuidora.

SUCESSO NA TV

Villamarim também foi o diretor das elogiadas séries “Nada será como Antes” e “Justiça”, exibidas em 2016 na Globo. Exibida em agosto e setembro na faixa das 23h na Globo, “Justiça” apresentou um formato inovador, com histórias diferentes sendo contadas a cada dia da semana, todas questionando a ideia de justiça na vida de pessoas comuns. A minissérie elevou para a casa dos 30 pontos a audiência média do horário. Elogiada pela crítica, a direção de Villamarim extraiu atuações intensas do elenco, que incluía Débora Bloch, Adriana Esteves, Drica Moraes, Cauã Reymond, Leandra Leal, Antonio Calloni, Vladimir Brichta, Julio Andrade, Luisa Arraes e Jesuíta Barbosa.

ENTREVISTA COM O DIRETOR JOSÉ LUIZ VILLAMARIM

Hoje um dos mais aclamados diretores da Rede Globo, Villamarim assinou as produções de maior sucesso de crítica da emissora nos últimos anos, como as minisséries “Justiça”, “O Rebu”, “Amores Roubados” e ”O Canto da Sereia” e a novela “Avenida Brasil”. Para “Redemoinho”, sua primeira incursão no cinema, ele convidou parceiros constantes de seus projetos na TV, como o roteirista George Moura e o diretor de fotografia Walter Carvalho.

Nasceu em Três Marias (MG), morou sete anos em Ipatinga (MG), depois morou em Belo Horizonte até os 28 anos, quando mudou-se para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Há mais de 20 anos na Globo, Villamarim foi indicado ao Emmy Internacional, o mais importante prêmio da TV mundial, por três vezes: pelas novelas “Avenida Brasil” e “Paraíso Tropical” e pelo programa “Por Toda Minha Vida – Mamonas Assassinas”. Mineiro, formado em economia, Villamarim já dirigiu 16 novelas, as minisséries “Anos Rebeldes” e” Mad Maria” e o seriado “Força Tarefa”, entre outros programas.

José Luiz Villamarim. Crédito: Divulgação

 PERGUNTA: Como começou seu interesse pelo cinema?

JLV – A vontade de fazer cinema veio antes do desejo de trabalhar com TV. Um certo dia, em Belo Horizonte, levado por meu pai, que era fã de Tom & Jerry, fomos a uma matinê de domingo. Só que ao invés de passar o desenho animado, por um problema na cópia, eles exibiram O Enigma de Kaspar Hauser, do Werner Herzog. Aquilo foi uma revelação que me deixou perturbado e curioso pelo cinema como expressão artística. A partir daí, já na adolescência, eu passei a frequentar o cineclube da sala Humberto Mauro, onde os filmes de Bergman, Buñuel, Fellini, Godard, Eisenstein, Antonioni e os brasileiros como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirshman eram exibidos. Comecei a ler para entender tudo aquilo que estava na tela e surgiu em mim uma necessidade, um desejo, um querer fazer cinema. Quando eu me formei nos anos oitenta, o cinema brasileiro estava em baixa e a Embrafilme havia sido extinta. Mas meu namoro com o cinema continuava firme, fui trabalhar com videoarte, mas querendo mesmo era tratar dos dramas humanas através das imagens. Foi aí que surgiu um contato na Globo onde fui apresentado ao diretor Dennis Carvalho, que me convidou para fazer a minissérie Anos Rebeldes. Com o tempo, fiz uma carreira na TV e me reencontrei com uma amiga de BH, Vânia Catani que fez um convite-provocação para fazer algo no cinema. Passei a procurar um projeto e me deparei com a literatura do mineiro Luiz Ruffato, com Eles Eram Muitos Cavalos, e fiquei encantado.

O que exatamente te encantou no livro de Luiz Ruffato e o levou a rodar Redemoinho?

JLV – O tema e a humanidade dos personagens. Redemoinho é um filme sobre uma grande questão: quem fez a melhor escolha? Quem decidiu partir do lugar onde nasceu ou quem escolheu ficar? Eu, como mineiro, que adotei o Rio de Janeiro para viver, me identifiquei com esse tema universal. Afinal, todo mundo que parte, carrega em si sempre a dúvida… Percebi também que os personagens do Ruffato pertencem a uma classe social, o mundo operário, que estão acima da pobreza e bem abaixo da linha da riqueza, ou seja, a maior parte da população brasileira. São pessoas com um nível de instrução, que ocupam um posto de trabalho, mas que isso não resolve todas as suas questões existenciais. E junta-se a isso que a literatura do Ruffato possibilita a revelação de uma Minas Gerais para além dos clichês folclóricos.

Falei do livro para a Vânia Catani [produtora] que fez o contato, e encontramos o Ruffato, em São Paulo. Foi quando ele nos deu um esboço do segundo volume da pentalogia Mundo inimigo e nos disse: “acho que isso aqui dá muito mais um filme do que o outro livro”. Mundo Inimigo é um livro de contos, todos passados em Cataguases. Um dos contos se chama Amigos, o eixo central do filme. Ele fala de dois amigos que se reencontram na casa de um deles na noite de Natal e passam a vida a limpo. O processo de adaptação do conto durou uns dez anos, porque minha carreira avançou na Globo e nunca sobrava muito tempo. Mas nem eu, nem a Vânia desistimos durante todo esse tempo. Até que eu me vi prestes a completar 50 anos, e pensei que estava mais do que na hora de fazer um filme.

Fale um pouco sobre a questão do trem no filme. A presença dele foi crescendo ao longo das filmagens?

JLV – Da primeira vez que fui à região, um amigo do Ruffato me indicou uma vilazinha por onde passava um trem. Aquilo para mim foi inesquecível. Pensei na hora que o trem deveria entrar na história, ser um personagem. A locomotiva representa, de alguma forma, um ponto de fuga, a possibilidade da partida, e também com ele sempre volta a passar no mesmo lugar, ele tem um caráter de redemoinho, algo que gira em torno do seu próprio eixo, sem sair do lugar e ao mesmo tempo tragando tudo.

O trilho traz as linhas paralelas que contaminaram os enquadramentos. E o fato de o trem passar tão perto da casa dos personagens e de forma tão estridente, passou a ser uma trilha sonora do filme. A linha do trem traz a ideia dos personagens, que querem sair daquele lugar, sair daquele inferno provisório no qual eles estão condenados a viver. A simbologia do trem ganhou uma proporção tal, que cheguei a dizer à produção: “se não tiver trem, não tem filme”.

 

O diretor de fotografia, Walter Carvalho, de filmes aclamados como Central do Brasil, já virou seu grande parceiro na TV em suas séries. Que ideias você trabalhou com ele para a fotografia?

JLV – Estreia no cinema com Waltinho, um artista que vive e respira cinema, foi um privilégio. A gente se conheceu em O Rei do Gado quando fizemos um pacto: um dia vamos fazer cinema juntos. Nos reencontramos na minissérie O canto da sereia e seguimos dividindo a nossa agonia artística em vários projetos. Como o filme trata do tema da partida, fomos construindo uma geografia física em torno disso: ponte, linha do trem, estrada, ruas e corredores das casas. Todos têm na imagem a ideia da travessia. A outra escolha essencial foi a câmera estar, quase sempre, fixa e na altura dos olhos dos personagens, o que resultou num mise en scène totalmente diferente de tudo que já havíamos feitos juntos na TV. Como tudo foi filmado em locações externas, na busca do realismo, decidimos interferir o mínimo possível. O Waltinho é um pensador do cinema. Ele e Marcos Pedroso [diretor de arte] foram parceiros fundamentais.

E a parceria no roteiro com o George Moura?

JLV – Quando li o original do Ruffato, pensei de imediato em convidar o meu parceiro George para a escrita do roteiro. Ele também se apaixonou. Coincidentemente tínhamos uma história em comum. Ele é do Recife e assim como eu fez a escolha de partir. George escreve com o coração sobre os dramas humanos.

Para nós, a experiência de estar juntos num filme, foi uma libertação de algumas características narrativas da TV aberta e pudemos nos aventurar na síntese do verbo, na ênfase nos personagens e na revelação sem pressa de uma trama sutil. Embora eu não escreva, temos uma relação franca e de troca que possibilita um trabalho de reescrita permanente. Em comum, no dia da filmagem, antes de começar a rodar, falamos sobre intenções, subtextos de uma cena e novas ideias fruto da insônia das madrugadas. É sempre um processo muito rico. O roteiro teve várias versões, foi para o laboratório do Sundance, foi lido pelo argentino Daniel Burman [de O Abraço Partido], que nos deu sugestões muito interessantes. Quis fazer um filme simples, barato, com pouca produção, apenas vinte e oito diárias, para trazer o artesanal para dentro do filme – ao contrário da TV, que é uma indústria. Um filme mineiro.

Como foi a escolha do Irandhir Santos para viver o Luzimar e do Julio Andrade para encarnar o Gildo?

JLV – Nunca tive dúvidas de que seriam eles. Eu ficava observando o Julio em O Rebu e pensando que seria perfeito para o Gildo. Uma vez, rodei uma cena e pude observar com o Waltinho como ele ficaria bem no filme. Quanto ao Irandhir, entreguei o roteiro a ele logo depois que rodamos Amores Roubados, já o convidando. São dois atores completamente diferentes, no approach que têm com o material, na maneira com que lidam com o seu ofício. Mas os dois ao mesmo tempo têm a cara do Brasil.

O Irandhir passava o dia inteiro na fábrica se preparando. Eu tinha ele só de manhã, e depois ele se mandava para a fábrica. E o Julinho ficava no hotel, deprimindo, longe da mulher que estava grávida na época. O Gildo é um personagem clássico do interior, que vai morar fora e quando volta cria uma grande figura, meio irreal, para a família e os amigos. O Irandhir tem um grande domínio técnico, mas ao mesmo tempo, se entrega e atinge catarses cênicas. Costumo dizer que o Julinho não tem  superego, não racionaliza nada. As figuras, quase opostos, possibilitaram um set vivo, inventivo e visceral.

Fonte: Vitrine Filmes

SERVIÇO:

Filme: Redemoinho, de José Luiz Villamarim

Onde e quando: A partir da quinta-feira, 09, no Arte Pajuçara,  às 20h30 (exceto segunda, 13/02)

Classificação indicativa: 14 anos

Ingresso: R$ 14 (inteira) e R$ 12 (meia-entrada)

Mais informações:

(82) 98882-8241

(82) 99135-8146 WhatsApp

(82) 3316-6000

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