Um entrevista com Dário Júnior

Perguntas: Pedro Krull. Revisão: Karina Liliane. Respostas: Dário Júnior. Fotos: Itawi Albuquerque e Albert Ferreira.

Dário Junior, diretor alagoano, começou seus estudos sobre cinema ainda na universidade e lá através da oficina Da Lauda ao filme pode desenvolver e realizar seu primeiro curta-metragem 12:40 (2012). Essa experiência fez com que seu interesse pelo audiovisual ganhasse força. A partir daí Dário buscou formas de continuar seus estudos na área e de construir uma carreira.

Seus três filmes seguintes: Dezembro, Em Silêncio e Wonderfull – meu eu em mim, estão disponíveis online com lançamento pelo Alagoar desde o dia 20 de junho e nessa entrevista ele nos conta um pouco mais sobre sua trajetória como realizador, seus processos de construção fílmica e o que significa disponibilizar  esses filmes nesse momento de isolamento social.

Pedro Krull: Como teve início o seu envolvimento com o cinema?

Dário Júnior: Em 2012 na oficina de cinema ofertada dentro do curso de Comunicação Social da Ufal. Lá, de modo coletivo, tivemos a oportunidade de apresentar uma ideia e desenvolvê-la como roteiro. A oficina teve quatro etapas sendo bem didáticas como era o seu título: Da Lauda ao filme. Foi a partir dela que realizei meu primeiro curta metragem o 12:40.

PK: “Dezembro”, “Em Silêncio” e “Wonderfull – meu eu em mim” estão desde 20 de Junho disponíveis no Alagoar. Como foi o processo de realização desses curtas? De que maneira eles se encaixam na sua relação com o cinema?

DJ: Paralelo a oficina de Cinema, eu estudei as teorias do cinema em duas disciplinas do Curso de Comunicação, fiz cursos ofertados pelo CANNE(Centro Audiovisual Norte-Nordeste) e isso me impulsionou a seguir no Cinema.

Em cada um dos filmes houve um processo de imersão, tanto de minha parte quanto da equipe. Em Dezembro, a equipe era formada por muitos alunos de outros campus da Universidade Federal de Alagoas e muitos deles nunca tiveram contato com um set de gravação. Vejo o filme como um laboratório, um divisor de águas e seu processo me ajudou muito na construção de assinatura como diretor.

Ainda na efervescência de fazer cinema e construir uma marca, eu parti para a realização de Em Silêncio. Queria experimentar, ousar e ter um feedback, precisava saber se estava indo na direção correta.

Depois de passar pela experiência de ter dirigido três ficções decidi fazer um documentário e é dessa observação, de como se faz documentários, que nasce Wonderfull – meu eu em mim onde eu uno a ficção com a realidade e mostro que elas muitas vezes se confundem.

Essa trajetória reflete o que  entendo de fazer Cinema. Cada processo de produção é um aprendizado, é uma busca em firmar minha marca/assinatura no audiovisual alagoano.

Equipe de “Dezembro”. Foto: Albert Ferreira.

PK: No epifânico livro “A paixão segundo G.H”, Clarice Lispector escreve em primeira pessoa a pergunta: “Fotografia é o retrato de um côncavo, de uma falta, de uma ausência?”. Nos 3 filmes noto a presença de algum tipo de ausência: da fala em Silêncio, do amor em Dezembro ou até mesmo o vazio da cadeira entre entrevistas em Wonderfull, isso reverbera para você?

DJ: Sim. Os vazios são muito bem expressados por Clarice Lispector por isso me utilizo de parte do texto dela “É pra lá que eu vou” em Wonderfull – meu eu em mim para mostrar que as ausências fazem parte do ser humano, sempre estamos em busca destas faltas.

PK: Pensando ainda em conexões entre esses filmes, me chama a atenção o trabalho de figurino com muito destaque na identidade e/ou motivação dos personagens dentro dos curtas. Como você vê o papel do figurino na construção narrativa e como se deu o trabalho de escolha, em cada?

DJ: Fico feliz em ver que você encontrou conexão entre os figurinos, acredito que esse destaque citado se deve pela preocupação que tenho com o perfil psicológico e físico de cada personagem. Procuro entender o comportamento deles e a partir daí é que começa o trabalho de figurino. Em Dezembro, foi preciso uma pesquisa de comportamento de jovens senhoras interioranas da década de 90.

Já no filme Em Silêncio, confiei na direção de arte que sintetizou o amor mal resolvido de carnaval em um casal simbólico, Pierrot e Colombina.

Em Wonderfull trouxemos o vermelho como símbolo de força, paixão pela vida e pulsação, onde uma cena impulsiona a próxima.

PK: O protagonismo feminino é bem presente na sua filmografia, inclusive no ainda não disponível “Aula de Hoje”, curta realizado com recursos do IV edital de prêmio de incentivo à produção audiovisual em Alagoas. Como você incorpora sua vivência na escrita através de gêneros e como você encara esse processo?

DJ: O processo de escrever sobre mulheres e colocá-las em evidência vem do fato de sempre perceber na minha vivência as mulheres superiores aos homens. Cresci vendo minha mãe ser melhor, em todos os aspectos e áreas, que meu pai. Apesar de ter crescido com ambos, era ela quem tomava todas as decisões e atitudes, cena muito diferente da realidade da época. Talvez ela nem se dava conta de quão era feminista. No entanto os meus filmes não são uma homenagem somente a minha mãe e sim a todas as mulheres como ela.

PK: O que significa para você a disponibilização desses filmes, nesse momento?

DJ: Vejo como uma forma de aprimorar o meu trabalho.  Quando os filmes estão fáceis de serem acessados as pessoas assistem e comentam mais, esse feedback é importante para a minha carreira. Além de que quando a arte perpassa pelo artista, ela é do mundo.

Deixe sua mini bio aqui

Graduado em Relações Públicas pela Universidade Federal de Alagoas (2014). Ainda na academia participou da oficina de cinema Da Lauda ao Filme onde roteirizou e dirigiu o seu primeiro curta metragem 12:40 (2012).

Foi assistente de direção no curta-metragem menina de Amanda Duarte e Maysa Reis (2013); ator e diretor de arte em LIXO de Paulo Silver (2013); dirigiu a arte de Valléria Brasil de Almir Guilhermino (2014); dirigiu e roteirizou Dezembro (2014); direção de arte de Monique  de Wladymir Lima (2015); roteirizou, dirigiu e produziu Em Silêncio (2015); dirigiu e roteirizou Wonderfull- meu eu em mim (2016); dirigiu e roteirizou o documentário Aula de Hoje (2019) e está em produção de Cabocla, documentário onde divide a direção com Sônia André.

Fez cursos de formação pelo CANNE (Centro Audiovisual Norte Nordeste) de Roteiro, com Daniel Tavares, de Direção, com Caetano Gotardo e de Direção de Arte com Vera Hamburguer. E pela Universidade Fora do Eixo fez o Curso de Cinematografia Digital em 2013, ministrado por Henrique Oliveira. Foi ministrante das oficinas de direção e roteiro “Da Lauda ao Filme Intinerante” para os alunos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Alagoas (FALE-UFAL) e para os alunos do interior do Estado (Penedo, Arapiraca e Delmiro Gouveia).

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