Texto: Larissa Lisboa
O título de um filme muitas vezes me faz entrar nele procurando algo, alguém ou apenas a revelação do seu significado. O Que Meu Corpo Fala (dir. Valéria Nunes e Glauber Xavier) já me convidou para o encontro com a poesia visual, musical e performática da narrativa que transita por e com Valéria.
Assisti O Que Meu Corpo Fala de duas formas distintas, na primeira não me conectei com as imagens da natureza, minha ansiedade só sossegou ao encontrar Valéria, e sentia falta quando demorava para reencontrar ela, num misto entre impaciência e curiosidade. Talvez precisava ter dito que conheço os diretores, e que isso também me fez procurar o que eu já conhecia dela e dele (vida e arte) nesse filme.
Ver O Que Meu Corpo Fala pela segunda vez foi uma experiência catártica, a qual ainda me soa completamente improvável. Mas o fato foi que ao decidir por reencontrar essa obra audiovisual novamente, foi como se eu tivesse vendo ela pela primeira vez, pois não tinha mais a ansiedade, impaciência ou curiosidade como companhia. Tinha afeto, simbologia e extravasamento da alegria que sinto em poder reencontrar Valéria Nunes e Glauber Xavier nesse filme, feito com tanta delicadeza, num espaço que parece desconhecido mas que é tão familiar, num movimento que toca aqueles que se deixam levar, e que celebra dois olhares, um corpo, tantos afetos, a arte, a natureza, o sagrado e o feminino.
E mais uma vez eu volto para a bagagem que tenho com Valéria e Glauber porque nesse segundo momento ela não foi o que me impulsionou a reviver o filme, ela estava justamente me alimentando a conectar a trajetória deles com o que eu tava me permitindo (re)conhecer. Entre recordar do quanto foi representativo para mim ver Valéria na tela pela primeira vez em Rua Democrata (dir. Glauber Xavier), até voltar para a segunda vez que os vi em cena no espetáculo “Sábia Sarjeta”, há uns quinze anos mais ou menos. Processar que eles não estavam no palco nem num ambiente urbano, e sentir que havia potência naquele lugar que estava ali como junto a compreensão de que um “não lugar” também é corpo e também fala.
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