Crítica: Cajá dos Negros (dir. Israel Oliveira)

Texto: Jacqueline Costa. Revisão: Leonardo Amaral

Filhos da terra

No Brasil, comunidades tradicionais sofrem com a pressão e retirada de territórios, apesar dos direitos garantidos por lei, que na prática não funcionam. A luta por igualdade e conquista de voz é diária, realizada por diversas populações que dependem do solo e do mar para o seu sustento. Com a retirada dessas comunidades, há a perda não só das terras, mas da reprodução cultural, social, religiosa, econômica e principalmente ancestral.

Na comunidade quilombola Cajá dos Negros há uma batalha pelo direito a terra, um povoado onde todo mundo é família, e como família quer os seus por perto. Buscam manter tradições, ritmos e a transmissão dos saberes de geração em geração; também é um lugar onde se planta o medo de acordar sendo ameaçado, de ver seus filhos com data e hora marcada pra ir embora, sujeitos a pressão dos fazendeiros que detém cada vez mais a posse terra. É uma situação que dá nós na venda da justiça, e esquece dos direitos básicos não cumpridos. Dizem que são a favor do fortalecimento da cultura, mas assinam a perda da identidade de um povo, querem tirar Cajá dos Negros do mapa.

Numa terra onde quem vence é quem quer lucrar mais, quem quer se apoderar de uma terra que não o pertence, ficam aqueles que estão velhos demais para sair, e vai embora a juventude que não quer ver a história se repetir, porque viver ali é quase um martírio, uma tentativa de manter a ancestralidade. É travar uma batalha constante que traz cansaço a quem ali mora, mas permanecer é resistir.

O diretor Israel Oliveira resistiu, e utilizou da juventude para dar fala a um povo que não tem voz. Trouxe com perspectivas de campo cruas, relatos sem edição, narrados sem cortes, filmagens dos moradores que com uma voz de um lado e “inchada do outro”, denunciam, contam a versão da sua história, que viver em Cajá dos negros é resistir, buscar por melhores dias e lembrar que nosso futuro é ancestral.

Análise crítica do curta Cajá dos Negros, curta da Mostra Especial – Filmes das Margens da 11ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano

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