Perguntas: Larissa Lisboa. Respostas: Cia do Chapéu. Revisão: Larissa Lisboa. Imagens: Cia do Chapéu e Weber Salles Bagetti (ilustração)..
Entre maio e novembro de 2020 a Cia do Chapéu, associação artística que desenvolve projetos culturais em Alagoas, principalmente em artes cênicas, produziu duas dezenas de obras audiovisuais. Além de investir no audiovisual como ferramenta para celebrar os 18 anos da companhia em 2020, a Cia do Chapéu presenteou o público com filmes, videodanças, videoartes ou como eles preferem chamar curtas células audiovisuais que compõe o projeto Pílulas Poéticas.
Esta entrevista tem como foco a relação da Cia do Chapéu com o fazer audiovisual antes de 2020 e durante a pandemia.
Larissa Lisboa: Como e quando foi criada a Cia do Chapéu?
Cia do Chapéu: A Cia do Chapéu se formou em 2002, a partir da realização de improvisações no centro de Maceió, encabeçadas por alguns estudantes dos cursos de teatro da UFAL (Licenciatura e Formação de Ator, hoje, Escola Técnica de Artes). O desejo de fazer teatro e o compartilhamento dos mesmos ideais e interesses nos levaram à criação do nosso primeiro espetáculo de palco, Apesar de Você…. Desde então temos mantido uma produção contínua e uma atuação junto ao cenário local de modo a fortalecer a rede dos artistas cênicos alagoanos.
LL: Como se deu a compreensão dos lugares de atuação enquanto companhia nesses 19 anos de trajetória?
CC: A Cia nasce como um grupo de artes cênicas, com ênfase no teatro. Mas desde o início nos lançamos em experiências que apontavam conexões com outras expressões, como a performance, a dança, a literatura, a música. A compreensão foi se dando no fazer, seja a partir de um movimento interno ou na troca com outros artistas e instituições. Por isso, não nos parece tão estranho esse investimento na área do audiovisual, pois na nossa trajetória o passeio por diferentes linguagens tem se dado desde nossos primeiros trabalhos.
LL: Como foi vivenciar o processo de construção do documentário Cia. do Chapéu que construímos juntos? Como é revê-lo após uma década do seu lançamento?
CC: Foi uma surpresa muito boa, um convite inesperado e fortaleceu o desejo de continuar produzindo. Os momentos da construção do documentário nos levaram a confrontar com nossas memórias, revelou a importância de se registrar os passos dados, de garantir de alguma maneira nossa história palpável. Muito embora, naquele momento éramos um grupo ainda jovem, com 5 ou 6 anos de atuação. Rever o documentário nos ajuda a compreender certas escolhas e a entender as transformações do nosso modo de pensar e fazer arte. O documentário hoje nos ajuda a compreender a escolha de seguir fazendo arte, de seguirmos juntos, apesar das adversidades.
LL: Como era a relação da Cia. do Chapéu com a produção audiovisual antes da pandemia?
CC: Antes da pandemia experimentamos o audiovisual num projeto chamado Filé de Segunda, por volta de 2012 e 2013. Eram vídeos cômicos pensados para o Youtube. A ideia foi encabeçada por Del Cavalcanti. Porém, num dado momento, o fluxo de produção foi sofrendo interrupções e o projeto parou, mas não está esquecido.
LL: Como foi o processo de construção das séries “Pílulas poéticas” e “Diário de bordo” e do videoclipe “Quem me define sou eu”?
CC: O Pílulas Poéticas veio como uma alternativa para o contexto da pandemia. Uma forma de manter as atividades criativas mesmo nesse contexto tão restritivo. O “Diário de Bordo” e o videoclipe são parte da campanha de 18 anos, onde o Pílulas acabou sendo incluído logo em seguida. O “Diário de Bordo” consiste numa série de 4 vídeos nos quais os integrantes e ex-integrantes da Cia abordam um determinado tema, relacionando-o com a história da Cia. E o videoclipe foi pensado para abrir a Campanha dos 18 anos, utilizando uma canção da versão mais recente do espetáculo Alice!? em que se fala sobre identidade e desejos. Em ambas as produções, cada participante desses vídeos gravou sozinho sua participação, em sua casa e com o equipamento disponível. O material foi editado e revisado antes da versão definitiva. Essas produções nos aguçaram alguns entendimentos sobre a relação com o vídeo e nos forçou a desenvolver habilidades e conhecimentos para garantir um mínimo de qualidade aos trabalhos (edição, filmagem, luz, roteiro…). Evidente que ainda há muito a percorrer nesse campo, mas é uma porta que abrimos e estamos desejosos por adentrar e investigar.
LL: Qual(is) a(s) dificuldade(s) em produzir obras audiovisuais em isolamento?
CC: Curiosamente o audiovisual foi uma escolha justamente para lidar com o isolamento. Na impossibilidade de produzir presencialmente, encontramos no audiovisual uma alternativa que de alguma maneira possibilitasse a evasão da criatividade mantendo o distanciamento que a pandemia nos impôs. Nossas produções em 2020 se deram totalmente à distância. Não nos encontramos, planejamos de modo remoto e dividimos as demandas cada um em sua casa. Somente em 2021 com a flexibilização e o avanço da vacinação organizamos encontros mas com os devidos cuidados. Nesse sentido, como cada um trabalhou isolado, cada um também enfrentou suas próprias limitações (técnicas, criativas, estruturais) e também encontrou meios de dar conta das demandas.
LL: Como as experiências anteriores à pandemia (produção, direção e atuação) colaboraram para a realização audiovisual?
CC: Essas são funções que permeiam tanto às artes cênicas quanto o audiovisual. Evidente que cada linguagem exige um tipo de entendimento no exercício dessas funções. Porém de modo geral são experiências que já possuíamos e nos possibilitou certa “tranquilidade” no trato com o audiovisual. Além disso, individualmente alguns e algumas integrantes do grupo já haviam experimentando a área do audiovisual e puderam compartilhar seus conhecimentos e favorecer os processos.
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A Cia do Chapéu é uma associação artística com sede em Maceió, voltada para a produção das artes cênicas. Com 19 anos de atuação, o grupo possui em seu histórico uma série de 7 espetáculos cênicos, dos quais dois seguem ativos; bem como projetos voltados ao intercâmbio, debate e estímulo à produção com os demais artistas do cenário local e visitantes. Atualmente, vem desenvolvendo obras audiovisuais intituladas Pílulas Poéticas; um espetáculo híbrido com previsão de estreia até primeiro semestre de 2022 e compõe o grupo gestor do Festival de Artes Cênicas de Alagoas (FESTAL) desde 2016.
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