Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.
A quinta série de filmes da Mostra Panorama reúne cinco curtas-metragens que retratam diversas formas de violência contemporânea. Esse recorte é composto por dois filmes pernambucanos, um paulista, um carioca e um mineiro que dialogam sobre as fragilidades que regem a vida humana, além de tratar sentimentos como raiva, felicidade e solidão.
Tereza Jósefa de Jesus (SP), de Samuel Costa
O curta-metragem marcado por capítulos acompanha a angústia de Juliana Jesus e retrata o relato de uma menina que perdeu sua mãe por uma negligência médica. A mulher que Juliana descreve como forte e que levantou sozinha a casa onde elas moravam foi definhando pouco a pouco até perder sua vida. Quando perde a mãe, a personagem entra nas cinco fases do luto, descritas por ela como uma jornada de reencontro. Até os 16 anos, Juliana não sabia o que era chorar, mas foi da forma mais difícil, com a perda de sua mãe que ela conheceu a tristeza profunda que escorria pelos olhos. Nesse relato, intrínseco e abrupto, percebemos a dor da personagem que precisou se refazer inúmeras vezes até se desfazer da culpa e do medo do esquecimento. Manter a memória de sua mãe viva foi o que a motivou a continuar.
Tito, uma videópera pop do cerrado mineiro em chamas (MG), de Fernando Barcellos
O filme que faz referência a tragédia escrita William Shakespeare, “Tito Andrônico”, vista como uma das obras mais violentas inglesas, ganha forma a partir de um olhar contemporâneo. O curta, que começa em um ringue com um coletivo de bailarinas, é dividido em atos e propõe um vencedor ao final. Essa “luta” acontece em meio a danças performáticas, regadas a boas doses de cultura pop e violência. Com muitas cores e músicas a tragédia anunciada se constrói, não sabemos ao certo o que esperar, o que parece é que nessa briga todo mundo já entrou perdendo de alguma forma.
Sad Faggots + AngryDykes Club (PE), de ViqViçVic
O depoimento forte de um jovem que não se reconhece em sua carne tem apenas três minutos e trata de uma violência estrutural construída com muito desrespeito e descaso. As confissões compartilhadas por um aplicativo de vídeo traz o relato de uma pessoa que resiste às conformidades de gênero e que não se opõe em afirmar que os ‘viados’ têm muito o que aprender com as ‘sapatões’, já que estas além de serem mulheres precisam ser fortes para lidar com a marginalização de seus corpos nessa sociedade altamente machista. Este depoimento é forte, comovente, mas é acima de tudo o relato de uma pessoa que sofre diariamente com a violência de gênero e que precisa ser ouvida.
Viver distrai (PE), de Ayla de Oliveira
A sexta-feira de carnaval que marca o início da festa no Brasil foi cancelada em 2021, devido a pandemia do novo Coronavírus, esse curta-metragem, filmado em Pernambuco, ilustra a confusão de sentimentos causados pela frustração do cancelamento do evento. Diante desse cenário de tristeza, um casal de namoradas sai em busca da folia e com um desejo de trazer de volta a felicidade carnavalesca que se estende o ano todo. Nessa busca, elas ouvem fogos, marchinhas de carnaval e até brincam e dançam, mas essa festa só elas estão vivendo, porque na verdade a cidade está vazia e desolada por um vírus que matou milhares de pessoas no planeta.
Usina-Desejo contra a indústria do medo (RJ), de Clarissa Ribeiro, Lorran Dias e Amanda Seraphico
O último curta-metragem dessa série é um filme interativo bastante envolvente. O roteiro que mostra as vidas de Penélope e Bill, duas jovens cineastas, desempregadas, que buscam saídas para continuarem produzindo e vivendo, parecem ter sido afetadas por problemas místicos. A trama muda de contexto quando parte para uma narrativa mais fantasiosa. Para tentar resolver o problema espiritual que atinge a dupla, Penélope decide entrar em contato com o canal da taróloga Oráculo, Usina-Desejo, no YouTube. Nessa viagem, Oráculo as leva para outra realidade onde novas maneiras de viver lhe são apresentadas, de forma futurista e entusiasta, nós, que estamos do outro lado da tela é quem decidimos o final dessa aventura e essa é sem dúvidas a parte mais legal dessa produção. O filme nos prende de diversas formas, desde sua estética até sua narrativa, que expõe várias problemáticas do Brasil, além de trazer distopias da indústria do cinema.
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