Texto: Sidinéia Tavares _ Assessoria Revoada. Fotos: Nathalia Bezerra.
Filme ambientado na floresta amazônica e na periferia de Manaus encerrou o I Festival Revoada de Cinema, em Maceió
Das periferias e da Floresta amazônica para o mundo! ‘Uýra, a retomada da floresta’ ganhou destaque mundial e chegou a terras alagoanas no último domingo, 27, ao ser exibido como filme de encerramento do I Festival Revoada de Cinema. Para um festival que uniu vários bandos nesse grande voo coletivo, e revoou pelos bairros da capital alagoana, nas áreas periféricas da cidade, não poderia haver uma obra melhor para encerrar esse ciclo audiovisual. Uýra é um ser múltiplo, atravessado por diversos universos étnicos, sociais e ambientais.
Presente no Festival Revoada de Cinema, a roteirista e produtora de Uýra, Martina Sönksen ressaltou a importância de festivais de cinema na periferia. “Um Festival muito bem organizado. É muito bonito chegar na praça e ver duas telas, dois espaços tão grandes, um palco e uma tela, ocupando de fato uma praça. É um festival bonito e que não é tímido. Ele veio para ocupar a Praça e chama as pessoas para assistir os filmes. Senti uma boa energia dos dois lados, do público e dos produtores do Revoada”.
Através da diversidade que habita em Uýra, o filme discute temas como justiça climática, racismo, luta do povo periférico, educação e transfobia. Ele foi exibido pela primeira vez em São Francisco, nos Estados Unidos, mas sua primeira exibição no Brasil ocorreu de graça, no bairro de Nossa Senhora de Fátima 1, periferia de Manaus, onde Uýra vive, desde criança, com a família, e que foi palco de boa parte das gravações.
“A premiére do filme foi nos Estados Unidos, rodou a Europa. Quando viemos para o Brasil, fizemos questão que a primeira exibição fosse em Nossa Senhora de Fátima, na frente da casa da Uýra. Foi uma experiência muito marcante, onde o público e as crianças, os jovens, os idosos da comunidade reconheciam os locais na tela. Gerou um momento de euforia no público”, explicou Martina Sönksen.
“Trazer esse filme para a periferia de Maceió é muito especial. É um lugar no qual o cinema é entendido também como um lugar da rua. Ele é feito da rua, no sentido que as histórias estão aí. Eu acho que ele precisa sair um pouco dos Centros e ir para bairros onde o cinema pode ser reproduzido ao ar livre”, destacou a roteirista.
O longa-metragem é um filme documentário que conta a história da artista trans, não binária, Emerson Pontes. Emerson Pontes, um ser múltiplo, artista, bióloga, indígena, professora, ativista ambiental, maquiadora e produtora. Mas, sobretudo, Emerson Pontes é a “entidade híbrida”, Uýra Sodoma. As performances de Uýra possibilitam um rompimento da linha que divide documentário e ficção e leva o público em uma viagem transcendente. Mágica, forte e urgente, como a natureza.
Conforme Martina Sönksen, a construção do roteiro do filme foi realizada com base na história de Uýra, pensado a partir da história dela. “Uyra não é só personagem do filme, ela também é coprodutora. O roteiro foi baseado em textos dela e juntas fomos construindo o filme, que realmente brinca entre essa linha ténue entre a ficção e o documentário. A gente entra em pontos ficcionais, mas tem momentos que são só documentais. A gente quis trazer isso justamente proposital, pelo trabalho que a Uýra faz com a performance ”, pontuou.
“A Uýra se identificada como ‘pretíndia’ e tem muitos atravessamentos, é trans, é periférica, é índia, ativista social. Ela tem a possibilidade de trazer diversas lutas sociais em uma só: a preservação da vida”, concluiu.
PREMIAÇÕES DE UÝRA:
Vencedor da Mostra Amazo?nia Legal, no 8º Festival Pan-Amazo?nico de Cinema – Amazo?nia FiDOC;
Melhor documentário no Oslo Fusion International Film Festival;
Melhor documentário no Reeling 2022: The 40th Chicago LGBTQ+ International Film Festival;
Melhor longa-metragem no BendFilm Festival.
Leave a Reply