Cobertura: Mostra Panorama – Série 1

Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

Diferente dos anos anteriores, a 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes voltou ao formato presencial e trouxe o público para as salas de cinema novamente. Apesar de ter passado dois anos atentos ao distanciamento físico devido a pandemia da Covid-19 e dando continuidade às exibições de forma online, a mostra não perdeu esse vínculo com o espectador que não pode comparecer às salas de exibições e conseguiu manter as reproduções dos filmes em formato híbrido (presencial e online). 

Em 2023, a Mostra Panorama foi composta por 29 curtas, divididos em seis séries. Cada série teve seus filmes disponibilizados por 72h no site do evento, o que também foi uma novidade, já que nos anos anteriores, após lançados os filmes poderiam ser assistidos apenas por 24h. 

Nessa Mostra alguns curtas chamaram muito a minha atenção, pois dialogam diretamente com a vida e com algumas perspectivas que tenho sobre ela. Escrever sobre cinema nos traz a possibilidade de enxergar, refletir e fabular sobre a existência e as relações humanas. 

– Na primeira série desta Mostra foram exibidos seis curtas:

O primeiro curta dessa série é Cláudio, de Calebe Lopes (BA), e se compõe como uma uma mistura de narração e performance. Esse filme também experimental, se constrói em meio a uma fuga acelerada de um homem. Não sabemos ao certo o que esperar dessa caçada, de um lado temos uma pessoa claramente desesperada e do outro uma mulher vestida de noiva com uma balaclava e uma faca na mão. Ficamos presos naquele impasse e o suspense toma conta de tudo.

Corpo Onírico é um filme experimental produzido em Pernambuco e dirigido por  Marina Barbosa Mahmood. Este curta é composto por uma série de elementos e conversa sobre corpo além de sua estética. Tão intrínseco quanto o espaço que se escreve,o filme consegue nos colocar em um lugar de transformação devido ao seu processo de construção. A performance nos sintoniza com a água e com o fogo. No roteiro, tudo se movimenta, ganha forma, nos abraça. Ele é lindo de se ver. 

De Como me Tornei Invisível pra Caber em meu Espírito (BA), Padmateo, o título do filme por si só é tão sensível quanto seu roteiro. Neste curta, a artista visual baiana consegue se colocar à prova, nos mostrando como essa figura se construiu ao longo de sua trajetória. O ser que precisou ficar invisível para sobreviver, é o mesmo que narra as perspectivas sobre sua existência.

O vampiro que pensa vozes, de Paulinho Sacramento (RJ), vive a história de um homem esquizofrênico, que pensa ser um vampiro. Ele percorre as ruas da cidade do Rio de Janeiro com uma chapa na boca, com suas presas enormes, seu pensamento acelerado algumas vezes nos causa agonia, mas não a ponto de querer desistir do curta. Este filme consegue trazer reflexões sobre a realidade do Brasil, nos fazendo analisar tudo que está acontecendo naquele compilado de informações.

Espectro Restauración (RJ), de Felippe Mussel, é um filme muito sensível. Apesar do nome incomum, este curta consegue fazer com que com que sintamos vontade de entrar nesse “Espectro” e então ficamos cheios de vontade de ler, de ver e de tocar o som. Nesse curta  fugimos do digital e nos perdemos no analógico, naquilo que existia antes dessa velocidade que tem a imagem e o som em nossos dias infinitamente atuais. Refletimos sobre a importância de preservar e restaurar a arte e nos lembramos  de como está tudo tão, Tão, conectado.

Já o curta-metragem Cine Pornô – Fragmentos de Desejo e Medo, de Luís Teixeira Mendes (RJ), é um tanto quanto excêntrico. Ele traz a ideia das relações sexuais famosamente conhecida como “rapidinha” e traça na tela dos espectadores o cinema pornô que se desprende pelas ruas do Rio de Janeiro. Esse filme, em especial, me causa uma sensação engraçada como aquela de quem pode enxergar olhares e se conectar a eles.

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