Cobertura: 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 3º dia

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa.

14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 09 de dezembro de 2023

Na Sessão 3, a última competitiva com videoclipes e curtas-metragens, foi realizada neste sábado, como todas as sessões anteriores o público lotou tanto o cinema quanto o teatro do Arte Pajuçara, após as exibições houve bate-papo mediado por Ronald Silva, e um convite para o “after” que ocorreu no BarZarte com a presença de Perigou (DJset), Caio Praças (Pocket show), Wini (DJset), Leviathan (DJset).

A Sururu deste ano teve em sua programação ações formativas, dentre elas: Masterclass Transgeneridade e Cinema, com Noá Bonoba; Masterclass Distribuição de Impacto, com Anna Andrade; e os Laboratórios de Crítica Cinematográfica, com Mirante Cineclube  e de Atuação com Wanderlândia Melo; Mostra de Videoclipes, além da Mostra Competitiva e debate com realizadores. 

Destaco aqui a mediação dos debates, realizada pelo ator e analista em audiovisual Ronald Silva. Em uma das edições da Sururu, Ronald esteve na plateia, ficou para o debate, fez uma pergunta e informou que já teria de ir embora, iria pegar o último ônibus, devido ao horário. Ronald é um admirador da sétima arte, e por o ser, ficou no debate, se arriscou na possibilidade de perder o transporte. Nesta edição da 14ª Mostra, ele não estava na plateia. Mas, com ela interagiu, deu o melhor de si. Brincou, ousou em suas mediações. O parabenizo pela bravura de ser quem é. 

Quanto aos videoclipes, numa efusão de sentidos e desejos tomados por corpos não celestiais, há um casal e a abertura para o portal do fruto do conhecimento e tentações. “Jardim das Delícias” é o videoclipe de Caio Praças (2023), e tem fotografia assinada por André Cartas. 

Em “Disco Voador Feat. Jurandir Bozo e Hudson Kalonia” (2023), temos o Nordeste futurista tomado por discos voadores, seres desconhecidos, uma invasão alienígena prestes a eclodir, Vulgo Br, faz uma homenagem ao músico e mestre Jurandir Bozo, com guitarra de Hudson Kalonia e uma composição de percussão eletrônica, com imagens adicionais da ficção científica “A Invasão Dos Discos Voadores”, de Fred Sears. 

Tropical Groove”, de LIMÃO THE SOUND (2022), com sua batida rítmica faz uso de imagens em preto e banco e insere suportes como TV, numa réplica de imagens, em plano fechado. 

Qual emoção e comoção toma conta de um estádio? Renata Baracho mergulha nesse universo e nos mostra, em seu curta-metragem “IMPEDIMENTO” (2023), mulheres que estão de alguma forma ligadas ao futebol, seja como torcedoras, repórteres, fotógrafas, ou jogadoras. Em Maceió há dois grandes times, CSA, o qual sou torcedora, e CRB – cresci ouvindo no rádio os jogos juntamente com meu avô e meus tios, nunca fui a um estádio de  futebol, embora nascida e criada na Capital, depois fui morar no interior, lá tem outro grande time o ASA (Arapiraca), não frequentei um estádio porque ouvia sobre este lugar não ser adequado para meninas e mulheres, “lá tem muita violência” –,  Renata nos mostra em seu filme, quando uma de suas entrevistadas nos fala sobre este ambiente hostil e sobre sua escolha enquanto a torcida organizada da qual participa, que os tempos são outros, mais mulheres frequentam os estádios, mulheres jogam, os estádios não lotam nos jogos femininos como nos jogos masculinos de futebol. A paixão e admiração é o que move estas mulheres. A montagem do filme é dinâmica, tal qual uma partida. Quais os fatores impeditivos na vida dessas mulheres e como elas driblam tudo isso para exercerem sua paixão pelo futebol. Nesse jogo de imagens, múltiplas partidas se desenham. O futebol feminino ainda passa por diversos desafios, a falta de investimento é um deles, mas na terra da rainha Marta, a bola rola no campo e essas mulheres tentam virar esse placar.

Movimento cultural cujo surgimento foi na década de 1960 nos EUA, as balls se tornaram espaços de acolhimento em diversos períodos, na década de 1980 em meio ao surto do HIV ou em 2020 na pandemia do COVID-19, o movimento Ballroom expandiu e, globalizado, se inseriu em outras periferias. É com base nesse recorte que a diretora Glendha Melissa em “Cultura Ballroom: A arte da resistência” (2023) fala sobre seus questionamentos e da importância desse espaço, meninas transexuais que são acolhidas e têm suas vidas ressignificadas por meio da arte, cultura e da educação. O curta-metragem feito sem grandes recursos se tornou possível pelo desejo de expressar-se, da possibilidade de mostrar além.   

“A história mais velha do mundo: Porque eu te amo”, (2023) é uma homenagem que o diretor Daniel Ricardo fez aos seus avós, o curta-metragem contém entrevistas com sua avó e seu avô, feito para eternizar o amor que um sente pelo outro, da admiração mútua que reverbera nos filhos e netos. 

A memória dos afetos, o desejo de ter vivido algo, o que se foi, o retorno que não veio. Em “Nós Duas”, de Wéllima Kelly e Leandro Alves (2023), dona Creuza relembra lembranças de sua mãe, dos cuidados para com ela, mas ela não está só, Valderez a acompanha nessa jornada. São duas mulheres, duas gerações e um afeto. Com enquadramentos ora em plano americano e plano médio, temos em “Nós Duas” um filme sobre a passagem do tempo e a ação dele sobre cada uma. O filme foi gravado em Arapiraca e participei como diretora de produção, tendo a Vila São Francisco no Povoado Serrote em Arapiraca, como locação.    

A animação “Diafragma”, de Robson Cavalcante (2023) é uma mostra do quanto a produção cinematográfica do interior de Alagoas tem crescido nos últimos anos, tendo o município de Teotônio Vilela como este expoente. Robson, diretor de Trem Baiano (2017); A Porta (2018); Paiol: Arte Independente em Teotônio Vilela (2016), mostra a possibilidade de realização descentralizada. O filme tem sua condução assertiva, resultante de um trabalho de pesquisa e dedicação à animação. Vemos isso nos enquadramentos das cenas, no personagem e em seu crescimento na história. O curta também possui acessibilidade com audiodescrição, uma vez que narra a história de um jovem fotógrafo que perde a visão. 

 “Tudo que é imaginado existe, é e tem”. A imaginação é algo inerente ao ser humano, nas suas diversas possibilidades. O Cinema também é lugar das possibilidades, a imaginação como potência. Em “Um dia ela amanheceu assim”, de Ticiane Simões e Elizabeth Caldas (2023) há um grito de desabafo, um grito preso na garganta, ele estava no imaginário coletivo. Ambrosina Maria da Conceição que era a Miss Paripueira, uma mulher e sua personagem, caminhavam lado a lado, enfrentando uma sociedade e seus julgamentos. A miséria do ser humano que outrora era disfarçada como “brincadeira” para fazer uso de agressão contra aquela mulher. O filme mostra sua família e sua vizinhança. O respeito e o orgulho póstumo. Ambrosina existiu e enfrentou uma sociedade e suas chacotas. Viveu mais de 100 anos e ainda vive na memória de um povo. 

“Retratos da Nossa Cor”, de Carlos Alberto Barros (2022) com performance do bailarino Topete (José Marcos dos Santos) e Fênix Zion, baseada nas obras do artista  Mestre José Zumba, há uma indagação constante quanto ao valor de uma obra, seu valor e não seu preço, ou o preço que compradores querem dar. O tempo, a obra e o valor são performados com maestria, os enquadramentos nos prendem ao olharmos fixamente a tela, mas qual tela? 

A arte de Mestre Zumba, o folguedo alagoano, o povo, a Lagoa, a arte para ser vendida e precificada e a constante pergunta “quanto vale a obra de um artista?” 

Teófanes Silveira está em “Biribinha: na fronteira do riso”, e tem direção de Lara Araújo (2023), a história de um dos maiores palhaços brasileiro é revisitada, passando pela montagem da lona, os preparativos para mais um espetáculo, suas frustrações, a pandemia, e seu amor maior: o Circo. Trata-se de uma justa homenagem ao palhaço Biribinha. Mais uma produção do interior de Alagoas, o segundo filme de Arapiraca exibido nesta noite da Mostra. 

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