Uma carta para Walter Salles

Texto: Rastricinha Dorneles. Revisão e imagem: Larissa Lisboa.

Querido Walter, seu filme é lindo, mas oito milhões de reais. Qual é a responsabilidade do grande empresário no investimento na cultura? Sabemos que esse montante é um valor muito baixo para a realização de um longa metragem em comparação aos orçamentos mundiais, por outro lado é um valor praticável por produtoras independentes brasileiras. Nesse mesmo ano, Megalópolis teve um orçamento de 140 milhões de dólares, investidos pelo realizador. Um filme de oito milhões é um orçamento para um dono de banco? Será que você acredita que vale o investimento, será que você acredita no cinema nacional? Nossa indústria é um latifúndio, com duas grandes fazendas produtivas. temos mais de 200 milhões de brasileiros, a TV bate recorde diários de público, atingindo um quinto das pessoas, temos uma população viciada em telas, que não vê o seu cinema, comemoramos quando 2% por cento veem um filme nacional. Quando vamos chegar nas pessoas que vivem aqui, qual é a obrigação dessas empresas que têm recursos para isso acontecer. O Brasil precisa investir no cinema, como fez a Coreia do Sul, tem sim. O Brasil tem que regulamentar o streaming, tem sim. Ainda Estou Aqui, é o primeiro projeto original Globoplay, feito pelo terceiro diretor mais rico do Mundo, que só perde para George Lucas e Steven Spielberg. Por esse prisma, o montante de oito milhões fica pequeno e não se justifica. O diretor brasileiro precisa investir junto, nós que estamos na base, fazendo filmes com nossos recursos, investimos tudo por nossa arte, muitas vezes investimos sozinhos, agora percebemos que lá na ponta, os maiores investem o mínimo, no  desejo de conseguir o máximo ou quase tudo. O investimento nacional não deve ser focado nos donos de bancos, o investimento nacional deve ser em formação de plateia e ampliação das cadeias de produção por todos os municípios, não tema isso, podemos ter bilheteria interna que paga a nossa produção, mas para isso, vocês que estão no topo, precisam sair das nossas costas e investir na sua arte. Parabéns pelo maravilhoso roteiro, pela maravilhosa Fernanda que conduz o público para o seu interior e por sua coragem de lembrar do passado, da próxima, acredita mais em você, na sua obra e em nós, a sua pátria.

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