Foto: Vanessa Mota
Texto: Wagner Sampaio
Produtor musical e contrabaixista que caiu de paraquedas no ramo do audiovisual, Emmanuel Miranda (“Sapulha”, para os conhecidos) é um profissional com quem tive o prazer de trabalhar no seu primeiro projeto cinematográfico, A Banca, e a partir daí… Bom, a partir daí ele quem deve dizer se tem sido bom ou não. Quem sou eu para afirmar uma coisa dessas, não é?
Antes de se tornar um dos profissionais de audiovisual mais requisitados do estado, Emmanuel também trabalhou com Márcio Câmara, um dos mais respeitados técnicos de som do país, na produção do curta Farpa (de Henrique Oliveira, 2012). Além de tantas habilidades, ele é um fomentador de discussões na área, lutando para que o nível técnico do cinema alagoano melhore ano após ano.
Neste segundo episódio da série Cine Ping Pong, eu, Wagner Sampaio, entrevisto o “Sapulha”. Na conversa, procurei saber dele o lado mais técnico da coisa, pois é muito importante para que todos saibam a opinião de um profissional do áudio preocupado com um trabalho bem feito e também preocupado com o reconhecimento de todos os profissionais técnicos envolvidos.
WAGNER SAMPAIO – Qual foi sua primeira experiência profissional no ramo do audiovisual?
EMMANUEL MIRANDA – Foi como microfonista e editor de áudio no filme A Banca.
WS – Você também produz discos de bandas. O que requer mais trabalho, produzir um álbum ou editar e desenhar o áudio de um filme?
EM – Depende bastante. Varia muito dos níveis de problema que se vai encontrar tanto na “mix” (mixagem) de pós quanto na música. É possível pegar uma música praticamente pronta para “mix”, assim é bem mais tranquilo… Como bem é possível receber a “mix” cheia de problemas onde tem que se gastar muitas horas pra tentar salvar a “mix”. Nos filmes, a mesma coisa. Depende bastante do que o filme pede. Existem filmes mais simples onde não é necessário um desenho de som tão intenso. Alguns filmes pedem pela própria simplicidade sonora, é preciso entender isso.
WS – Como você classificaria o nível do profissionalismo dos envolvidos no audiovisual em Alagoas?
EM – Classifico que estamos em evolução. É preciso muito ainda de nós todos. Estamos começando e certamente ainda aprendendo.
WS – Existe alguma preferência de estilos de filmes para você trabalhar, ou sente-se bem em qualquer um?
EM – Sem preferência.
WS – Você procura ter cuidado não só com a captação dos diálogos, mas também no trabalho de foley. Você poderia falar sobre a importância da captação do som direto para uma melhor qualidade de um filme?
EM – É imensamente importante o cuidado na captação. Uma boa captação é inversamente proporcional ao tempo de edição. Se está bem captado, terá que gastar menos horas editando. É interessante também captar todos os sons na locação. Isso facilita na hora da edição principalmente porque não vai ter que trabalhar duro na psicoacústica. Com estes sons extraímos os PFX.
WS – Você acredita que compreender o processo de pós-produção de áudio ajuda no êxito da captação do som direto?
EM – Completamente. Muita gente acha que tudo salva na pós e não é bem assim. Muitas locações são complicadas de trabalhar (muito barulhentas) e é comum o uso de dublagem nesse tipo de locação. É possível corrigir e salvar muita coisa na pós, mas ela não faz milagre.
WS – Você costuma opinar com o diretor no set de filmagem sobre a captação de som direto, ou confia muito em seu trabalho de pós-produção a ponto de poder consertar qualquer falha eventual?
EM – Quando estou captando, por trabalhar com pós (na verdade por essa ser a minha principal atuação) eu tenho consciência do que é ou não possível. Muitas vezes quando não dá, aviso ao diretor que não vai ficar bacana. Mas a última palavra é a dele… No cinema existe uma hierarquia. Se tiver que ser assim, vai ser, mas o diretor assume o risco.
WS – Qual trabalho de audiovisual te dá mais orgulho e por quê?
EM – Humm… Não tenho preferências, na verdade. Gosto do trabalho do Menina [de Amanda Duarte e Maysa Reis, 2013] pela simplicidade e por saber que essa simplicidade foi compreendida. Também gosto do Ontem à Noite [de Henrique Oliveira, 2014) pela complexidade e invisibilidade.
WS – De modo geral, o que você melhoraria no audiovisual alagoano para atingir mais qualidade, ou você acredita que não há necessidade de melhorias?
EM – Investimento em cursos de qualificação em todas as áreas seria muito bacana. Seria de suma importância a valorização do profissional de som direto e da pós de som. Principalmente do profissional de som direto. Realmente é grave quando constatamos que a diária de um “slider” custa mais caro que a de um profissional de som direto com quase R$ 8.000,00 em equipamento. É pra se sentir um lixo, foi por essa desvalorização que vendi todo meu equipamento de som direto, pois só para pagar o equipamento eu teria que fazer aproximadamente 40 diárias. Mas percebo melhoras. Ainda bem. Se sentir valorizado é fundamental para o crescimento do mercado.
WS – Quando uma produção inicia um projeto, seja ele de curta ou longa-metragem, você acha que o seu trabalho é valorizado pelos realizadores no momento da fomentação do orçamento do projeto, dando-lhe o seu valor correto de trabalho?
EM – Acredito que não, mas isso é em todo lugar. O som é praticamente a última etapa, então assim, o pessoal tem uma ideia de orçamento, sendo que quando chega na hora da pós, sempre existem gastos extras no meio do filme e o som na verdade fica com o que sobra (risos). Mas isso é em todo Brasil, pelo que converso com profissionais da área.
WS – Qual a sua opinião com relação aos editais de audiovisual em Alagoas?
EM – Eles devem ser mais organizados. É sempre uma briga pra sair um edital. Sem edital não existe fomento do mercado. Tudo fica estagnado. Estou gostando de ver que os valores estão aumentando.
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