Elitizado e fortemente concentrado nos shopping centers da capital, o circuito exibidor contemporâneo perdeu o caráter democrático que já possuiu no passado. Uma época em que as pequenas salas de bairro, nas capitais e nos interiores do Brasil, eram redutos obrigatórios para famílias de todas as classes sociais.
Com a avassaladora chegada do fenômeno dos multiplex, muitos destes espaços foram desativados e transformados em comércios ou igrejas. Nos últimos anos, porém, tem crescido um movimento de resgate das charmosas salas que durante anos alimentaram o imaginário popular com suas programações.
Como parte desse novo cenário surge a primeira Mostra Junqueiro de Cinema, que acontecerá próximo dia 04 de novembro, colocando em evidência o saudoso CineTeatro São José, sala com 180 lugares recentemente restaurado numa parceria entre a Igreja Católica, a prefeitura da cidade e a comunidade. A programação do evento é composta por curtas-metragens alagoanos que se destacaram nos últimos anos.
Pedro da Rocha, cineasta alagoano cuja a formação afetiva tem raízes em Junqueiro, é o responsável pela iniciativa. Ele conversou com o Alagoar sobre a nova mostra de cinema que o estado acaba de ganhar.
ALAGOAR – Qual o objetivo da mostra?
PEDRO DA ROCHA – Além da natural necessidade da interiorização de ações que deem visibilidade a produção alagoana, a mostra ainda tem o objetivo de incentivar a população de junqueiro, sobretudo a juventude, a ocupar o privilegiado espaço que é o Teatro São José com eventos culturais de qualidade. No caso específico da Mostra de Cinema a intenção também é despertar nos jovens da cidade o interesse em realizar seus próprios filmes.
A – Qual o papel do CineTeatro São José para a cidade de Junqueiro?
P.D. – O Teatro São José foi no passado e recentemente voltou a ser o mais importante equipamento cultural de Junqueiro. É uma construção antiga pertencente à Igreja Católica e cuidada pelo Padre Menete, que passou por um processo de restauro e modernização durante três anos e foi reinaugurado em dezembro de 2016. Segundo a historiadora Carmen Dantas, sua fachada tem estilo eclético com elementos variados do neogótico, do neoclássico e um frontão incomum com repetição da platibanda, com decoração singela que situam sua construção como sendo da primeira metade do século XX. Entre a data de sua construção e seu fechamento, o espaço foi palco de variados eventos artístico-culturais, incluindo peças de teatro, shows musicais, saraus de poesias e cinema. Em sua fase mais efervescente serviu de palco para que um grupo de jovens atores locais mostrassem seus talentos com montagens de espetáculos variados que algumas vezes deixavam a cidade para apresentações em outros lugares, entre as quais Maceió, no Teatro Deodoro. Todos os espetáculos tinham a direção de dona Lulu Barbosa.
Nas décadas de 1960/70, o espaço funcionou como cinema, exibindo filmes de vários gêneros e nacionalidades inclusive filmes referenciais de diretores do porte de John Ford, Vittorio de Sica, David Lean e Akira Kurosawa.
A – Porque começar com filmes alagoanos?
P.D. – A ideia de ocupar o espaço com programações regulares de cinema vem desde a elaboração do projeto arquitetônico feito para o processo de restauro, com a inclusão de uma cabine de projeção e um eficiente sistema de som. A sugestão para que a programação de cinema fosse iniciada com filmes alagoanos partiu da diretora da Juventude do grupo Natijuncos, Maria Jessiele, levando em conta o atual momento da sétima arte em Alagoas e o próprio ambiente favorável criado pelas comemorações do bicentenário da emancipação política do estado.
A – Quais critérios foram levados em conta pela curadoria?
P.D. – A curadoria optou por selecionar apenas filmes classificados como obras de ficção com temas diferenciados e acessíveis a todos os segmentos de público. Vale mencionar que a lista inclui títulos premiados em mostras e festivais em Alagoas e no Brasil e que quatro dos diretores são originários de cidades da região, vizinhas a Junqueiro.
A – Qual a pretensão do evento para as próximas edições?
P.D. – A pretensão inicial é fazer com que a primeira mostra seja bem recebida pela cidade. O que esperamos para as próximas é que o número de horas de exibição seja ampliado e ao projeto sejam agregadas oficinas de produção, encontros, exposições sobre cinema e outras atrações que transformem Junqueiro e o Teatro São José como referências entre as pequenas cidades do interior de Alagoas.
SERVIÇO
O quê: I Mostra Junqueiro de Cinema
Onde e quando: No CineTeatro São José (Avenida Santos Pacheco, Centro), dia 24 de novembro, às 19h
Aberto ao público
Informações: 99637-7868 ou 98894-7434
Parabéns pela iniciativa!
Arte se faz assim: com talento, amor, carinho e dedicação!
Quais são os filmes alagoanos selecionados para a mostra?
Vi no cartaz.