Sururu 2017 chega ao fim com safra histórica e premiação emocionante

Lais Elenira e Ulisses Arthur, protagonista e diretor de "As Melhores Noites de Veroni"
Texto: Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano. Fotos: Nando Magalhães/divulgação.

Mais uma vez cumprindo a sua missão de injetar estímulo na produção audiovisual do estado, em sua edição de 2017 a Mostra Sururu de Cinema Alagoano apresentou uma panorama surpreendente. Refletindo o amadurecimento dos profissionais e de suas obras, a mostra competitiva deste ano superou expectativas, arrebatou o público (cerca de mil pessoas lotaram duas salas do Centro Cultural Arte Pajuçara durante os três dias de evento) e impressionou o corpo de jurados.

A crítica de cinema e curadora Camila Vieira, que compôs o júri oficial desta edição, manifestou o sentimento em sua página no Facebook. “Nos últimos cinco dias, ter participado da Mostra Sururu de Cinema Alagoano foi uma das experiências mais enriquecedoras durante todos esses anos de convívio com festivais de cinema no Brasil. Tive a oportunidade de conhecer um panorama da produção recente do cinema alagoano, que é bastante diversificada e tem força suficiente para ser mais reconhecida nacionalmente”, escreveu a jurada.

Também composto pelo produtor João Paulo Procópio e pelo curador e realizador Eduardo Valente, o júri escreveu uma declaração para expressar o impacto provocado pela programação da mostra.

“Em se tratando de um Estado onde não existe sequer um curso de audiovisual ou cinema em nível universitário, e onde as políticas públicas de apoio ao setor ainda são frágeis e marcadas por incertezas e soluços, chama a atenção que o setor tenha atingido tamanha capacidade de articulação e afirmação, fazendo crer que a produção local tem tudo para se afirmar, em breve, como uma das mais interessantes dos próximos anos”,leu Eduardo Valente antes da divulgação dos prêmios.

Os jurados também se sensibilizaram com o atual drama vivido pelos produtores locais, que lutam para receber os pagamentos do Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual de Alagoas, lançado pela Secretaria de Estado da Cultura e atrasado há mais de um ano.

“Claro que isso depende muito de que haja sensibilidade e vontade política para perceber a capacidade desse setor em projetar nacionalmente uma imagem de Alagoas que afirme as potencialidades criativas de uma cultura que tem tudo para combinar uma tradição secular com uma inquietação e sensibilidades totalmente contemporâneas, afirmando-se como uma voz essencial no espaço do audiovisual brasileiro”, completou o texto.  

Realizador, produtor, diretor, roteirista e editor Pedro da Rocha recebendo homenagem por toda sua história com o cinema alagoano.

HOMENAGEM

A noite de encerramento da Mostra começou pautada pela emoção, com a homenagem ao cineasta Pedro da Rocha. No palco, a jornalista Simone Cavalcante e a irmã do cineasta, Fátima Oliveira, relembraram sua trajetória e ressaltaram sua importância para a história do cinema alagoano.

Pedro recebe abraço durante cerimônia

Em sua fala Pedro fez um retrospecto da história da própria Mostra Sururu, cuja criação contou com sua colaboração enquanto membro da ABD&C/AL. Após a cerimônia o público teve a oportunidade assistir duas de suas produções,  incluindo o inédito “ O Mar de Corisco”.

OS PREMIADOS

Pelo segundo ano, a Mostra Sururu experimenta uma reformulação no conceito da premiação. A partir de uma série de debates promovidos pelo Fórum Setorial do Audiovisual – FSAL, foram criadas categorias que melhor se adequam a realidade da cena local. Mais uma vez os filmes em competição concorreram aos prêmios de “melhor filme”, “melhor contribuição artística”, “melhor contribuição técnica” e “melhor performance”, além do prêmio Olhar Crítico e Prêmio Sesc do Júri Popular. Como reflexo da alta qualidade verificada na competição, o júri oficial optou por oferecer duas novas distinções: uma menção honrosa e um prêmio especial do júri.

Robson Calvacante e Claudemir Silva, realizadores de Teotônio Vilela, receberam os prêmios “Olhar Crítico” e “melhor contribuição artística” para “Trem Baiano”

Entre os destaques do resultado foi marcante a consagração da produção vinda do interior do estado, com o prêmio de melhor contribuição técnica para o arapiraquense “Avalanche”, de Leandro Alves, e os prêmios “Olhar Crítico” e “melhor contribuição artística” para “Trem Baiano”, de Robson Calvacante e Claudemir Silva, realizadores de Teotônio Vilela. Já “Teresa”, de Nivaldo Vasconcelos, levou o prêmio de “melhor performance” para o desempenho de sua protagonista Pam Guimarães. O prêmio especial do júri ficou com “Furnas dos Negros”, de Wladymir Lima. “A Noite Estava Fria”, de Leonardo Amaral, recebeu a menção honrosa da premiação.

Dando prosseguimento a uma bela carreira iniciada no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, “As Melhores Noites de Veroni”, de Ulisses Arthur, foi escolhido como o melhor filme da Mostra Sururu 2017 numa feliz sintonia entre júri oficial e o júri popular.  

Claudemir Silva e Robson Cavalcante (Trem Baiano), Ulisses Arthur (As Melhores Noites de Veroni), Leonardo Amaral (A noite estava fria), Peixe Dias (representando Furna dos Negros de Wladymir Lima), Leandro Alves (Avalanche) e Nivaldo Vasconcelos (Teresa, representando Pam Guimarães).

Compuseram o júri oficial desta edição edição Mostra Sururu: Eduardo Valente, cineasta, crítico,  curador de cinema, diretor artístico do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e membro do comitê de seleção do Olhar de Cinema, além de delegado para o Brasil do festival de Berlim; Camila Vieira, jornalista, crítica de cinema, realizadora, integrante da associação brasileira de críticos de cinema(Abraccine) e do Elviras – coletivo de mulheres críticas de cinema; e João Paulo Procópio, produtor, roteirista, realizador, sócio diretor da Pavirada filmes. Leia a seguir as justificativas apresentadas pelo júri para cada um dos prêmios.

DECLARAÇÃO DO JÚRI OFICIAL

“O júri da VIII edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoano gostaria de manifestar, antes de mais nada, a extrema satisfação de tomar contato com uma produção vibrante e multifacetada, que nos surpreendeu pela sua capacidade de articular temas urgentes e essenciais com uma inquietação de forma bastante marcante. Ao longo desses três dias e dezenove filmes, pudemos assistir desde filmes de um veterano de trajetória tão coerente e firme quanto Celso Brandão até trabalhos finais de cursos universitários. Trafegando por estes filmes, nos confrontamos com temas urgentes que nos permitiram enxergar os dilemas e desigualdades de uma cidade como Maceió ou da formação desigual do próprio contexto audiovisual quanto às questões de gênero, como traçar contato com a memória de muitas tradições formadoras da cultura e sociedade desse Estado. Saímos daqui enriquecidos por podermos entender o “ser alagoano” de uma maneira muito mais profunda graças a conhecermos esses filmes.

Em se tratando de um Estado onde não existe sequer um curso de audiovisual ou cinema em nível universitário, e onde as políticas públicas de apoio ao setor ainda são frágeis e marcadas por incertezas e soluços, chama a atenção que o setor tenha atingido tamanha capacidade de articulação e afirmação, fazendo crer que a produção local tem tudo para se afirmar, em breve, como uma das mais interessantes dos próximos anos. Claro que isso depende muito de que haja sensibilidade e vontade política para perceber a capacidade desse setor em projetar nacionalmente uma imagem de Alagoas que afirme as potencialidades criativas de uma cultura que tem tudo para combinar uma tradição secular com uma inquietação e sensibilidades totalmente contemporâneas, afirmando-se como uma voz essencial no espaço do audiovisual brasileiro”.

Camila Vieira, Eduardo Valente e João Paulo Procópio

Jurados da VIII Mostra Sururu de Cinema Alagoano

Realizadores do filmes apresentados na VIII Mostra Sururu de Cinema Alagoano.

PREMIAÇÃO

PRÊMIO OLHAR CRÍTICO

Trem Baiano de Robson Calvacante e Claudemir Silva

“Por decisão conjunta escolhemos uma obra que se sobressai pela simplicidade, que faz muito com poucos recursos, mostrando que o cinema está vivo em todos os cantos do estado. Este filme é um respiro, representa novos caminhos pro nosso cinema quando flerta com o gênero documentário, trazendo o inesperado dentro da oralidade do nosso povo.  Sem mais delongas, pegaremos o TREM BAIANO. É tudo nosso.”

PRÊMIO MELHOR FILME JÚRI POPULAR

As Melhores Noites de Veroni de Ulisses Arthur

MENÇÃO HONROSA

Leonardo Amaral no filme A Noite Estava Fria

“Pela maneira articulada e pregnante como se aproxima do drama muito humano de seus personagens numa realização praticamente sem recursos, deixando antever um olhar cinematográfico bastante único e que promete futuros filmes que já nos deixam curiosos pelos próximos passos de seu realizador, o júri confere uma menção honrosa a Leonardo Amaral pela direção do filme A NOITE ESTAVA FRIA.”

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI

Furna dos Negros de Wlaydimir Lima

“Pelo resgate essencial de personagens e paisagens decisivos na construção de uma luta secular das populações negras pela liberdade de serem donas de seus próprios caminhos e territórios, e por articular essa história com fenômenos presentes apontando pelo tanto que ainda há a ser feito, o júri decidiu conceder um Prêmio Especial ao filme FURNA DOS NEGROS.”

PRÊMIO DE MELHOR CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA

Avalanche de Leandro Alves

“Pela capacidade de entender como os dois elementos básicos da linguagem audiovisual (imagem e som) são acima de tudo mecanismos para permitir que uma narrativa se articule da maneira mais potente, o prêmio de Contribuição TÉCNICA vai para a fotografia e o som do filme AVALANCHE.”

PRÊMIO DE MELHOR PERFOMANCE

Pam Guimarães no filme Teresa

“Pela encarnação física do dilema maior de uma autêntica performer, que é a maneira de conseguir trazer para seu corpo as questões e aspirações de um outro ser humano, sendo perfeitamente complementada por um trabalho de câmera e montagem pensados cuidadosamente para extrair dela os melhores efeitos, o prêmio de Performance vai para Pam Guimarães no filme TERESA.”

PRÊMIO DE MELHOR CONTRIBUIÇÃO ARTÍSTICA

Trem Baiano de Robson Cavalcante e Claudemir Silva

“Pela maneira como consegue construir ao longo de sua duração uma sensação de maravilhamento, surpresa e descoberta, deixando claro como a distância entre imaginário e realidade é arbitrária, e pela capacidade de extrair de seus personagens participações apaixonantes, o prêmio de Contribuição Artística vai para a direção do filme TREM BAIANO.”

PRÊMIO DE MELHOR FILME

As Melhores Noites de Veroni de Ulisses Arthur

“Pela impressionante maturidade com que utiliza as ferramentas cinematográficas, fazendo com que a técnica esteja sempre a serviço da sua narrativa, ancorada em uma personagem principal interpretada de forma apaixonante por sua protagonista, que reposiciona com grande sutileza as questões femininas frente os universos privado e público, o Prêmio de Melhor Filme vai para AS MELHORES NOITES DE VERONI.”

Em seu oitavo ano, a mostra é realizada pelo Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano – FSAL, através do fomento do prêmio Mestre Cicinho, realizado pela secretaria de estado da cultura de alagoas, na categoria produção culturalO evento conta ainda com a produção executiva da La Ursa Cinematográfica, em parceria com o coletivo Popfuzz,  o Centro Cultural Arte Pajuçara, o Núcleo Zero e Mirante Cineclube. Com o apoio da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, da Escola Criattiva, da Abrasel – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, do Sesc Alagoas, do Hotel Tropicalis e do restaurante Ser-afim.

Júri oficial e equipe de produção da Mostra.

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