Texto: Janderson Felipe. Revisão: Larissa Lisboa.
O terceiro dia da mostra competitiva veio com os ares maravilhados da noite anterior, e com isso a escolha acertada da curadoria se manteve, numa sessão que trouxe olhares passando pela Praia do Francês, o Pontal da Barra, o bairro do Jacintinho, o município de Palestina e o rio São Francisco, esta sessão também é marcada pela forte presença feminina tanto vista em tela como por trás das câmeras.
Diferente das outras sessões, a abertura ficou por parte do filme convidado, Entrerio (de Larissa Lisboa) nos leva pelos reflexos nas águas do rio São Francisco e os afetos que o carregam, descobrimos que também somos o rio e o rio é tantas outras coisas, é aí que o transe acontece. Em Delas (de Karina Liliane) parte da angústia da diretora em não se reconhecer na maioria dos nomes que fazem o cinema alagoano, o que se vê é um resgate, que é político ao contestar o lugar das mulheres no audiovisual alagoano, mas que também é uma carta dessas mulheres de amor ao cinema. A Batida da Transformação (de Levi Yuri) continua o tom político do seu antecessor, ao ter a representação de Fernando Rozendo ao mostrar o quanto a cultura hip hop é importante paras as comunidades que sofrem com a desvalorização do estado. Em seguida temos Meninos do Francês (de Duda Bertho) que retrata as dificuldades de jovens surfistas que lutam contra as adversidades para manter os sonhos de cada um dentro do esporte. Partimos então para o Pontal da Barra, nos deparamos com a arte do bordado de Filé, Entre as linhas do tear (de Marcelo Nivaldo da Silva Jr.), onde a personagem da Teka Rendeira toma o filme pra si, ao contar a história que inspirou a canção “Só em Maceió”, em que Martinho da Vila visitou sua casa. O Carpinteiro de Jesus (de Celso Brandão) mostra o poder de Celso ao encontrar ótimos personagens e em saber retrata-los em tela, dessa vez ele foi para Palestina, no município do sertão alagoano encontramos o artesão Antônio Benedito e sua habilidade de dar vida a pedaços esquecidos de madeira. Saímos do interior para a solidão no apartamento em Os Desejos de Miriam (de Nuno Balducci) onde nos deparamos com o isolamento de uma mulher que deve se confrontar com anseios e o inesperado. As Melhores Noites de Veroni (de Ulisses Arthur) ficou responsável por encerrar a mostra competitiva, em que a presença da personagem interpretada por Lais Lira tomou o público da sessão, num filme que pulsa ao apresentar uma mulher que busca pelos seus sonhos, além do lugar que lhe foi posto.
Homenagem, premiação e discursos
O dia seguinte ao encerramento da mostra competitiva é o momento de extravasar todo o festejo que a semana propôs para o cinema alagoano, a começar com a homenagem a Pedro da Rocha, realizador importante para a história do nosso audiovisual pela extensa produção desde 1989 que destacou em sua fala a construção da Mostra Sururu, onde foi um dos idealizadores quando presidiu a Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas de Alagoas – ABD&C/AL, também ressaltou a importância do lançamento das produções em eventos locais.
Na premiação os realizadores de Teotônio Vilela, Claudemir Silva e Robson Cavalcante mostraram bom humor devido a surpresa de ambos ao receberem os prêmios Olhar Crítico e Contribuição artística pela direção em Trem Baiano. Vimos também a emoção de Leonardo Amaral ao receber uma Menção Honrosa por A Noite Estava Fria, em que o júri destacou o potencial do jovem realizador. Nivaldo Vasconcelos ao receber o prêmio de Melhor Performance de Pam Guimarães, protagonista de Teresa, lembrou da resistência da performer ao ser convidada para interpretar a personagem por não se sentir atriz. Leandro Alves discursou sobre como foi importante a equipe para o processo de produção de Avalanche e da importância de se produzir filmes em Arapiraca e outros interiores de Alagoas ao receber o prêmio de Melhor Contribuição Técnica pela fotografia e som. As Melhores Noites de Veroni entrou em sintonia levando os prêmios de Melhor filme pelo Júri popular e oficial, encerrando no estado um ano histórico da carreira que teve início com a quebra do jejum de 32 anos da presença alagoana no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, o jovem realizador, Ulisses Arthur agradeceu a sua equipe e Lais Lira protagonista do filme, encerrou a noite com uma fala pedindo uma melhor integração entre as classes do teatro e do cinema no estado e apontando o potencial da troca entre as linguagens para alcançar bons resultados para ambos.
Com a conclusão dessa edição fica o desejo de ver maior investimento para a nossa produção e a certeza de que temos um potencial infinito para pôr em prática.
A premiação da VIII Mostra Sururu de Cinema Alagoano ficou:
Olhar Crítico: Trem Baiano, de Claudemir Silva e Robson Cavalcante
Menção honrosa: A Noite Estava Fria, de Leonardo Amaral
Prêmio Especial do Júri: Furna dos Negros, de Wladymir Lima
Melhor filme pelo Júri popular: As Melhores Noites de Veroni, de Ulisses Arthur
Contribuição técnica: Pelo uso da fotografia e som em Avalanche, de Leandro Alves
Melhor performance: Pam Guimarães, por Teresa, de Nivaldo Vasconcelos
Contribuição artística: Pela direção de Trem Baiano, de Claudemir Silva e Robson Cavalcante
Melhor filme pelo Júri Oficial: As Melhores Noites de Veroni, de Ulisses Arthur
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