Texto: Janderson Felipe. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Divulgação.
A sessão do último dia do Festival de Cinema Universitário trás a materialização do corpo, em diferentes estágios, de objeto que está a serviço do imaginário construído pela masculinidade até a sua libertação de padrões e amarras. Esta edição do festival terminou mantendo a energia de experimentação que perpassa por toda as narrativas construídas durante as sessões programadas nos últimos dias.
Era Uma Vez Uma Mulher (Dir. Viviane Freitas)
A mulher que mesmo morta ainda precisa se adequar aos padrões e interesses de um homem. O corpo da mulher enquanto objeto, em que ao usar imagens de arquivo para estabelecer outras conexões com a violência de gênero oscila ao tentar abraçar tantos temas, como a tortura, a ditadura, mas que vai bem quando utiliza o imaginário de mulher “bela, recatada e do lar” construído em publicidades. A percepção é de que existe uma dissonância entre o que seria a metáfora para a construção do imaginário de opressão de gênero e a relação de agente funerário e a mulher morta.
Sair do Armário (Dir. Marina Pontes)
Um desabafo potente sobre a existência de mulher lésbica, aqui o corpo não está presente, a voz e as palavras bastam para trazer a relação de mãe e filha e a impossibilidade de empatia e de recusa da mãe em amar a sua filha por completa, é um arrebate sobre a nossa falha enquanto sociedade em que a primeira pessoa que esperamos o amor, é a que violenta.
Varal (Dir. Carla Caroline Mota Neri)
O estouro de satisfação de uma mulher por ter estendido o varal e ser ver livre das vestes, o êxtase da feminilidade por estar em contato com a terra, a água e o ar, guiados pela mulher-cachoeira, a mulher sorrindo e as vestes encharcadas.
Inconfissões (Dir. Ana Galizia)
Uma carta de amor de uma sobrinha para o tio desconhecido em carne e osso, mas que está vivo através das memórias que registrada em encontros familiares, nos estudos nos EUA em meio a explosão da revolução sexual dos anos 60 e nos casos amorosos e sexuais. Essa busca da sobrinha pelo conhecimento do tio que teve a vida interrompida cedo, acaba também por ser parte de um retrato sobre a historicidade de vivência da comunidade LGBTQI+ ao olhar para a obra que o tio deixou e trabalhar com tamanha potência essas imagens e áudios.
De vez em Quando, Quando eu morro, Eu choro (Dir. R. B. Lima)
A construção abandonada, onde só se constrói cadáveres. No encontro entre dois corpos que entram num jogo em que um submete as regras do outro, repulsa e desejo estão em confluência, estão lá habitando os cadáveres. Por isso o assassinato da mulher após ter ido trepar com dois homens tem que ser lembrado, é metáfora da violência em círculos. Cada qual com sua arma, no sexo que tem que ser seguido pela extravaso da violência, as lágrimas de sangue não tem fim.
Primavera de Fernanda (Dir. Debora Zanatta e Estavan de La Fuente)
Chegou o momento de Fernanda florir, agora é hora de deixar pra trás o violência que o mundo da prostituição lhe dá para seguir novos caminhos. É interessante a rima que faz com o filme da noite anterior Entre a Rua e o Palco, aqui vemos a narrativa proposta por Natasha, sendo colocada em prática, em que Fernanda, uma mulher trans, tem sua esperança renovada para conseguir um emprego e passa a imergir nas memórias de infância de sua mãe. O curta tem um belo jogo da fotografia de no início colocar Fernanda de frente para o espelho tendo que olhar suas feridas e encerrar vendo a sua primavera roxa e azul florescer.
A Liberdade Não Veste Camisa de Força (Dir. Aquila Jamile)
Aqui o corpo não está quanto objeto, ele existe, fora de padrões, formas, na sua cor está presente. É o resistir contra a força que te prende e puxa para baixo. O corpo que ocupa o quadro, a narrativa do corpo-tela que deve ser visto e vivido.
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