Entre 2006 e 2007 Alice Jardim vivenciou o processo de filmagem de A Paisagem e o Movimento no litoral norte de Alagoas (Passos do Camaragibe, São Miguel dos Milagres e Porto da Rua), que foi apresentado em setembro de 2007 como Trabalho Final de Arquitetura (TFG) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas.
A Paisagem e o Movimento (dir. Alice Jardim) também foi um dos filmes que assisti durante a primeira edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoano em 2009. Não me recordo de ter conversado com Alice sobre o filme antes de assistir ele e acredito que só ouvi ela falar de como foi o processo para fazê-lo em 2014 quando ela ministrou o minicurso de introdução ao audiovisual (Bê-a-bá Audiovisual) na 5ª edição do Ateliê Sesc de Cinema.
Mesmo revendo esse filme tantas vezes, ainda fico imensamente encantada pelo seu primeiro minuto. A abertura em que Alice realiza uma intensa, colorida e emocionante fusão de imagens em consonância com a trilha que vai pulsando até a tela escurecer.
As cenas do cotidiano dos moradores daquela região me remetem aos registros realizados pelos cinegrafistas contratados pelo irmãos Lumière para registrar o que acontecia pelo mundo para ser exibido nas salas de cinema. A narrativa é conduzida pela música, muitos personagens apenas passam pelo quadro, pouco estão parados, poucos também os que vemos por um tempo maior ou que aparecem mais que uma vez no filme.
Alice como metodologia para o TFG criou um mapeamento, colecionou registros, mas o que ela apresenta pro espectador em imagens é um mergulho poético no que nada parece com um trabalho acadêmico. A leveza das imagens é orquestrada pela trilha sonora do grupo Uakti, que nos conduz do começo ao fim, mas que em alguns momentos destoa do que acontece na cena e nos leva pra fora do filme.
A Paisagem e o Movimento é o registro de quando Alice começou a acreditar que poderia se expressar através do audiovisual e fazer cinema, é um filme que me estimulou em 2009 e continua me inspirando após uma década. No conjunto dos 28 filmes que compuseram a curadoria da primeira Mostra Sururu, foram apresentados dois que assino a direção, Contos de Película e Celso Brandão (codirigi com Alice Jardim).
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