Crítica: As duas Irenes (dir. Fabio Meira)

As duas Irenes (dir. Fabio Meira) é a primeira produção goiana a atingir o circuito de cinema nacional e festivais como o de Gramado, nos sendo, assim, uma preciosidade em meio a um cinema tão subestimado como o nosso.

A história se passa em uma cidade do interior, ao redor de uma família-tradicional-brasileira-endinheirada, cheia de suas irrefutáveis manias e funcionamento invariável. Em meio a isso, Irene é a filha do meio e não se sente querida ali, encontrando, muitas vezes, no enfrentamento e em sua personalidade “cabulosa” um refúgio para viver em tal contexto.

Diante de suas atividades cotidianas, Irene descobre que seu pai possuí uma outra esposa e outra filha, também chamada Irene. Manter isso em segredo, uma vez que a outra família vive em uma cidade vizinha é, certamente, o maior furo de roteiro (como os próprios personagens não notariam isso?).

Deixando de lado essa falha, o filme é lindo. Sua fotografia é composta majoritariamente por planos limpos, meticulosos, que nos remetem a uma cinematografia um tanto quanto semelhante à de diretores como Sophia Coppola e Wes Anderson. A arte é delicada, usufruindo de tons que são, em sua maioria, suaves e complementares. Enquadramentos cuidadosos – salvo para a cena em que as Irenes vão ao cinema, que merece destaque, ou nas belas andadas de bicicleta entre as amigas – tornam a experiência leve e deliciosa de se sentir.

Porém, não é apenas de boas imagens que é composto o filme. São diversos os temas abordados, como a aceitação própria, as mudanças na puberdade, as relações familiares e a hipocrisia do mundo adulto.

Em relação às atuações, as jovens atrizes se saem muito bem, e os momentos em que contracenam são os mais poéticos de toda a trama. Sendo a “segunda Irene” claramente uma versão mais “evoluída” da primeira. O filme não é clichê; apenas Irene filha-de-outra-mulher é mais desenvolvida corporalmente e extrovertida, e é de se esperar que logo uma certa competição e estranhamento apareça ali.

Entretanto, o que vemos é um amor suave, uma amizade singela, construída através de um roteiro simples, de uma história sem grandes picos de tensão, porém sempre sustentada pela mentira que causa tudo aquilo.

As duas Irenes é, ao meu ver, um dos melhores filmes nacionais já feitos e um dos lançamentos mais imperdíveis. Certamente irá comover (apoiada, também, em uma trilha sonora clássica, composta de músicas como “Índia”, que marcaram uma época) o público que aprecia sair do cinema comercial no qual estamos inseridos com as grandes produções.

 

Disponível no Youtube Filmes

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