Crítica: Como ficamos da mesma altura (dir. Laís Araújo)

Texto: Vinicius Brandão. Revisão: Tatiana Magalhães

Como ficamos na mesma altura?

Vejo com bons olhos o fato de Como ficamos da mesma altura construir uma unidade interessante entre a ideia do luto e a relação paternal. Nessa unidade, acredito que o filme de Laís Araújo tem como destaque o uso dos vazios: tanto os espaciais, em relação aos planos amplos sem muito preenchimento material; quanto os relacionais, em razão da relação entre os protagonistas Laura e Miguel.

Esses vazios simbolizam bem o distanciamento entre pai e filha em meio a uma enxurrada de sentimentos. Nesse sentido, ao chegarem em Anadia, interior de Alagoas, Laura e Miguel logo se separam. Não sabemos o motivo, mas Laura se mostra inquieta; Miguel, impaciente; e as relações, conturbadas. Mesmo com Laura só, a cena é filmada em planos abertos, acentuando o espaço presente, quase que a expulsando de cena. A inquietude dela é justificada: o pai não poderia ter deixado ela sozinha para que pudesse ir à festa de 15 anos de sua amiga?

Vemos que não é tão simples assim. A dor no pé é um sinal. O que a inquieta tanto seria mesmo corpóreo? Nem o pai sabe muito bem responder, diz que é sujeira, e ele não está de todo errado. Quer dizer, o luto é uma sujeira da alma, sujeira que não sai de uma hora pra outra. Laura só percebe isso quando é alertada pelos outros: “É bonito seu gesto”, “Tivemos que correr pra avisar da morte para não ocorrer a festa”. Ela não entendia, porque tinha se posto distante, assim como seu pai se pôs evitando o elefante na sala – o aniversário de um ano da morte do irmão – que eles substituíam por um vazio de comunicação e afeto, não por maldade, mas por medo de lidar um com o outro.

Ao contrário do que ocorre em Mommy (2015) de Xavier Dolan, em que há uma expansão em razão de um “libertamento”, aqui quando a personagem se dá conta desse vazio advindo desses sentimentos, o filme se encurta, os espaços são reduzidos e o formato da tela diminuído. A dor que sentia no pé é a dor de não compreender seu pai e aquele sentimento que compartilham, mas a partir do momento em que compreende, eles se equiparam, atingindo a altura e as dimensões necessárias para preencher parte daquele vazio que sempre persistirá, em alguma medida.

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