Crítica: O Homem das Coisas (Direção Coletiva)

Texto: Marcos Paulo Ventura. Revisão: Tatiana Magalhães

No final das contas, o que falta para a sua coleção?

Um quadro em perspectiva com uma paisagem matinal. Nele vemos uma casa, uma árvore e um homem sentado. De repente, o homem começa a falar conosco e diz que gosta de ouvir música. Não é para menos que ouvimos Bebê, de Hermeto Pascoal, vindo provavelmente de uma vitrola antiga da residência, para embalar essa cena inicial do curta-metragem de documentário, O Homem das Coisas. Seu Edvaldo é o nome deste personagem-anfitrião, que nos convida a entrar em sua casa e nos mostrar as coisas que gosta, como ele tem orgulho em dizer.

As coisas do homem. Nesse primeiro momento do filme, nós somos apresentados aos cômodos da casa, que estão vazios de nosso anfitrião, porém cheios com suas coisas. A câmera fixa enquadra e registra de modo lento e contemplativo cada cômodo por vez, e foca nas coisas – que são muitas e diversas – o que nos diz que estamos prestes a conhecer realmente um grande colecionador.

Logo em seguida, a câmera nos traz à companhia de nosso personagem. E ele começa a mostrar e falar sobre todas as suas coisas: LPs, CDs, DVDs, fitas VHS, aparelhos de som, calculadoras, gravadores, relógios, livros e tantas outras coisas mais. E é incrível como cada coisa parece ter uma história particular, pois ele conta a nós suas histórias.

O homem das coisas. Nesse segundo momento, nós passamos a conhecer ainda mais o Seu Edvaldo, pois ele já mostrou e falou sobre as coisas de que mais gosta em sua vida. Agora o filme foca mais no homem, e quer saber mais sobre sua história de vida. Então, ele começa a falar mais de si mesmo.

E assim, temos uma cena bastante comovente, porque a menina pergunta sobre o que Seu Edvaldo queria ter sido na vida. Nesse instante, a câmera está fixa em nosso personagem, ele hesita um pouco, responde que pretendia ser advogado, porém lamenta as circunstâncias e as condições de quando era um menino em Arapiraca. Isso, pois seu pai era pobre, ele precisou trabalhar, e também porque escola havia somente em Maceió.

Assim, o filme atinge o clímax, porque essa cena foi registrada de modo bastante generoso e com grande sensibilidade. Deste modo, o curta mostra seu Edvaldo muito emocionado, enquanto compartilha conosco um episódio tão particular de sua própria história, ao passo que nos emociona bastante também.

E para finalizar a entrevista, a menina faz uma última uma pergunta sobre o que falta para a coleção dele. E nosso personagem responde graciosamente: “Tá faltando o que eu não tenho”. Pouco depois, o filme termina, e enquanto os créditos passam ao som de “Carinhoso”, com Hermeto outra vez.

Por fim, é importante dizer que o maior mérito desse filme é ter feito um retrato de modo tão afetuoso e intimista deste senhor carismático chamado Edvaldo Izidoro, uma vez que a direção do curta é coletiva e composta por estudantes da oficina do Núcleo Audiovisual de Arapiraca (NAVI). É, portanto, uma turma que está iniciando suas experiências no cinema, mas que já está de parabéns por esta realização.

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