Texto: Pedro Krull. Revisão: Larissa Lisboa.Foto em destaque: divulgação.
Arrepio. Primeira palavra das minhas notas traduz o sentimento da sessão de Cavalo (dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles), na 23ª Mostra Tiradentes de Cinema, o filme cavalga com segurança, junto a sete dançarinos, por diversos dispositivos – entrevistas, performances grupais e individuais, e até filmagens feitas pelos próprios personagens – e escava profundamente em busca de ancestralidade e poética em múltiplas formas de expressão do Quilombo dos Palmares à Lagoa Mundaú, do break ao candomblé, de Oxóssi à Nanã, do corpo à alma, da vida à morte.
A plasticidade dos movimentos, a força na presença de cada um dos dançarinos é muito pulsante, mas o filme parece transpor o concreto e busca enquadrar o intangível. O princípio vital da existência, algo posto já no começo junto a história da criação do homem e o sopro da vida, Enin. Essa genealogia do sagrado é feita de maneira muito acessível e propositiva, se valendo dos diferentes graus de iniciação que os protagonistas têm, fugindo da didática quando nos une ao processo dos ensaios das performances, com experimentações dos próprios personagens e cenas do cotidiano, uma especialmente tocante de uma mãe e o filho artista.
Em Cavalo, as texturas dos elementos naturais marcam a métrica dessa poética visual no fogo das velas, na lama dos mangues, na água do mar ou no vento empurrando as folhas, tudo isso sob um céu dessaturado e esverdeado em busca de um roxo sempre presente na paleta. Esse uso específico de motivos visuais naturais me puxou muito os filmes de Tarkovsky, principalmente Andrei Rublev, como a força dramática que a chuva traz para uma das performances e as mãos percorrendo as raízes do mangue. Porém, o longa metragem alagoano usa dessas imagéticas para elevar a busca de um momento ancestral, uma sombra que compreende a resposta das perguntas desses corpos entrelaçados: Que força os une? Quem são? Por que se movem?
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