Texto: Roseane Monteiro. Revisão: Larissa Lisboa
Entre os filmes que consegui assistir para a Mostra de Cinema de Tiradentes, Plutão Não É Tão Longe Daqui (dir. Augusto Borges e Nathalya Brum) e Escasso (dir. Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles), foram os que me levaram a pensar nos entrelaçamento da relação entre ficção e o documentário.
Plutão Não É tão Longe Daqui vai contar com Rian (Rian Araújo) para exibir a ausência que sente do irmão que teve que fugir. A montagem apresenta a fotografia como indício da presença do irmão na narrativa, peço ajuda ao filósofo e historiador da arte Didi-Huberman para refletir as imagens estáticas e movimento, “por mais recente e contemporânea que seja -, ao mesmo tempo o passado nunca cessa de se reconfigurar, visto que essa imagem só se torna pensável numa construção da memória, se não for da obsessão”. Diante disso, essas imagens fílmicas irão sobreviver, podem também ser motivos de disputas de memórias e da construção de um futuro, pois o cinema é uma disputa. Quem merece ser lembrado? Um cara da periferia deixou um rastro da existência por meio de sua imagem, ele não é um número, tem rosto, corpo e alma capturada pela fotografia.
Nesse contexto, o cinema de ficção bebe do documentário para narrar, construir e ressignificar o mundo, em Escasso há uso de metalinguagem, na ideia do cinema ser divertido, brincante, mas também de falar coisas sérias que entrariam no clichê de um documentário padrão de perguntas e respostas sobre a visão de mundo da depoente: Rose (Clara Anastácia), minha xará, se apresenta como uma cuidadora de casa, ela quebra as paredes – denunciando o documentário (a equipe é mostrada em várias situações no filme). Nesta denúncia inventada, ela brinca com os espectadores, usa a roupa de uma outra pessoa, encena e também se transforma em diretora, como de fato ela é.
A ficção como gênero busca construir outros mundos, mas também diz muitas coisas assumindo uma narrativa mais clara ou prefere esconder utilizando outros recursos opacos de narrativa, essa intersecção cinematográfica é uma pista do contexto de inventividade e não fronteiras entre gêneros cinematográficos.
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