Carta: PRÊMIO ANITA DAS NEVES – 13ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano (2022)

Texto: Laboratório de Atuação e NEPED.

As artes dramáticas são comumente entendidas como um exercício de fingimento. Essa visão está bem distante da realidade. A arte de atuar tem o compromisso com o alcance da verdade de uma história ou argumento artístico, transmitindo essa verdade através de ações, movimento, falas, e executando o que se quer comunicar sob a forma de personagem, utilizando para tal tão somente o nosso corpo, ou seja, o corpo de cada atriz e cada ator, comunica a verdade existente em uma obra, oferecendo o que nela se quer dizer ou simplesmente provocar. É muito importante entender que alcançar esses objetivos é uma tarefa árdua, que envolve muita dedicação e um empenho incessante na vida de cada pessoa que escolhe esse caminho. Atuar, além de uma atividade artística, comunicativa e cultural, muito longe der ser um lazer é, acima de tudo, um trabalho, uma atividade profissional.

Trabalho esse que sustenta pessoas e suas famílias, que prospera vidas em ganhos que vão para além do financeiro, ainda que em praticamente todas as trajetórias de quem se dedica a esse ofício, essa jornada muitas vezes não traz estabilidade em diversos sentidos, fazendo com que profissionais da cena se encontrem sempre numa situação de prontidão com o instável, se firmando na certeza da importância desse trabalho e de que esse ofício é, para nós, o melhor que temos a contribuir com a sociedade.

Entre as possibilidades de poder oferecer o nosso melhor, enquanto atrizes e atores, está a linguagem audiovisual; e a Mostra Sururu, tem uma relação de grande importância com as atividades de artistas das artes cênicas em nosso estado, em uma história que por hora foi filme de suspense e por outras novela mexicana.

É fundamental relembrarmos alguns pontos dessa história pra entendermos como chegamos até aqui: em 2015 a 6a edição da Mostra Sururu teve uma polêmica premiação que, através do Júri Oficial desta edição, decidiu não premiar nenhuma atriz ou ator presentes nas obras em cartaz na mostra competitiva daquele ano.

Após esse ocorrido, vários diálogos, dentro e fora do período das edições seguintes da mostra, repercutiram a respeito da presença de artistas das artes cênicas e dramáticas no evento, bem como a forma como estas trabalhadoras e trabalhadores eram percebidos dentro da cena audiovisual alagoana.

Durante seus 13 anos de existência, vários diálogos, dentro e fora do período das edições da mostra, foram promovidos e provocados a respeito da presença de artistas das artes cênicas e dramáticas no evento, bem como a forma como estas trabalhadoras e trabalhadores eram percebidos dentro da cena audiovisual alagoana.

Houve um reconhecido esforço em fazer com que essas discussões se convertessem em ações formativas que refletissem essas ausências e presenças de nós, artistas da cena, na mostra e nas obras audiovisuais em Alagoas. Atividades como Salto no vazio – oficina de des/programação de atores para cinema oficina ministrada por Flávio Rabelo, a Oficina do Teste à Cena: Os Caminhos Da Atuação no ano passado e o Laboratório de Atuação esse ano com Ticiane Simões foram, para muitas pessoas das artes cênicas residentes em nosso estado, as primeiras oportunidades de estudar, refletir e praticar a atuação voltada para as obras artísticas audiovisuais.

Sendo assim, entendendo a importância dessa trajetória, propusemos dar mais um passo na direção de uma presença construtiva e colaborativa, com o principal evento que celebra o nosso cinema, e que foi acolhida nesta edição.

Em uma parceria – tão aguardada – entre o Núcleo de Estudo e Pesquisa das Expressões Dramáticas (NEPED/CNPq/Ufal) e o Sesc Alagoas, anunciamos o Prêmio Anita das Neves de Atuação!

Este será, a partir de hoje, um prêmio especial, destinado, a prestar uma homenagem ao trabalho da atriz e do ator, como destaque por sua atuação. O prêmio Anita das Neves de Atuação, se soma às outras premiações da mostra, não interferindo, desta forma, na autonomia dos prêmios concedidos pelo Júri Oficial de cada edição.

Nesta primeira premiação, a comissão foi formada por artistas que participaram do Laboratório de Atuação, que se comprometeram em estar presentes em todas as noites de exibição para ver aos filmes participantes da mostra competitiva.

Também compõe a comissão representando o NEPED, a atriz e pesquisadora Ticiane Simões e o ator e professor Otávio Cabral, além do ator e analista em audiovisual do Sesc Alagoas Ronald Silva.

Anita das Neves, que dá nome ao título deste prêmio especial, foi uma atriz alagoana natural de Boca da Mata, premiada em 2012 na 3a edição da Mostra Sururu por seu trabalho no filme O que Lembro, Tenho, de Rafhael Barbosa, sendo este o seu primeiro e único trabalho com 74 anos de idade. Ela faleceu aos 77 anos em 2015.

Homenagear Dona Anita, implica em vários significados, dentre os quais, para além de tudo já citado, está o significado do que queremos com essa oportunidade.

Nossa luta nunca foi para que atrizes e atores sem formação acadêmica ou profissional, ou seja, artistas iniciantes ou sem experiência, não pudessem trabalhar em filmes no nosso estado. O que queremos é que atrizes e atores se sintam parte efetiva de nossa cena audiovisual, porque é isso que nós somos: uma parte integrante e trabalhadora desse segmento.

Queremos e lutamos pela valorização dos trabalhadores e trabalhadoras das artes cênicas do estado. Esperamos que, assim como aconteceu com nossa homenageada que dá nome ao à nossa premiação, sempre que se opte por formarem elencos com atores e atrizes sem formação profissional, se reforce a importância da valorização de uma atividade profissional e que esta valorização também passa por oportunidades de trabalho, de formação e de reconhecimento.

É nisso que acreditamos e é pelo que lutamos, como atrizes, atores, e partes integrantes do setor audiovisual alagoano.

Gratidão a toda equipe da Mostra Sururu por mais esta realização coletiva.

Estamos, através dessa porta que nos foi aberta, nos colocando em prontidão para com esse espaço e em chamado para que mais e mais pessoas se cheguem e possam engrossar esse caldo.

Vida longa para à mostra, ao nosso cinema e ao Prêmio Anita das Neves de Atuação!

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