Foto: Vanessa Lima
Texto: Rafhael Barbosa
Eles chegaram literalmente botando banca. Quando estreou em 2012, na programação da III Mostra Sururu de Cinema Alagoano, o primeiro curta-metragem assinado pelo selo DDA Produções causou um certo burburinho. Com linguagem pop à Tarantino, algumas boas tiradas de humor e total despojamento técnico e dramatúrgico, A Banca (dirigido por Aloisio Correia com roteiro de Wagner Sampaio) experimentou um caminho ainda não explorado na nova fase do cinema alagoano, dividindo opiniões: grande parte do público embarcou na história da dupla de nerds que decide assaltar uma banca de revistas. Já outra parcela dos espectadores não deixou de criticar a superficialidade da produção.
O curta, que saiu sem prêmios daquela edição da Sururu, foi exibido no prestigiado festival de Tiradentes do ano seguinte. A Banca mal esfriou quando a recém criada produtora independente lançou o segundo trabalho: Hoje Não.
Novamente estão lá o humor com nota dominante e as referências à cultura pop, somados a um novo ingrediente: a sátira. Provavelmente influenciados pelas críticas recebidas ao curta anterior, o roteirista e agora diretor Wagner Sampaio contra-atacou, camuflando no enredo sobre um suicídio frustrado algumas alfinetadas ao lado mais autoral do cinema alagoano. Lado no qual me incluo.
Polêmicas à parte, Wagner, à frente da DDA (a sigla é uma referência a deficit de atenção), seguiu rodando pelo menos um novo filme a cada ano, num ritmo que não chegou a ser interrompido nem por sua mudança para São Paulo, em 2014. Ano passado produziu e lançou O Balconista e A Grama Mais Verde. Este ano é a vez de Abadom, ainda sem previsão de estreia. O curta, codirigido com Reuel Albuquerque, conta a história de “um homem que tenta ajudar o seu irmão e sua cunhada a enfrentar uma gravidez inesperada”.
Inaugurando o Cine Ping Pong, uma série de conversas entre profissionais do audiovisual, eu entrevisto Wagner para falar sobre seus projetos e sua visão sobre o cinema alagoano de hoje. Na próxima publicação da série saiba quem ele escolheu para entrevistar.
RAFHAEL BARBOSA – Você ganhava a vida como músico. Como se aproximou do cinema?
WAGNER SAMPAIO – Sempre gostei do meio artístico, desde criança gostava de criar histórias. Tenho até hoje guardado uma série de revistas em quadrinhos com 56 episódios que eu escrevi e desenhei quando tinha 10 anos de idade, era sobre quatro jornalistas (risos).
O gosto pela musica veio na minha vida por causa do meu pai, e juntando com amigos que tinham as mesmas influências musicais, comecei a ter a primeira banda e isso. Cinema e música sempre andaram juntos, e quando se é músico você acaba ficando até mais sensível, tanto na parte técnica como na parte criativa.
RB – Todos os curtas da DDA perseguem um humor e um estilo próximos da TV e do cinema norte-americano. Inclusive fazem referências explícitas a filmes do Tarantino e séries como Breaking Bad. Hoje, quais são suas principais referências?
WS – Quentin Tarantino sempre foi a minha maior influência para escrever. Uma vez meu irmão me disse: Wagner, você nunca vai conseguir escrever igual a Tarantino e tenha isso como um elogio, porque ele é um psicopata. Ok, posso não escrever como ele, pois não sou ele, mas me influencio muito por ele. Querer ser igual a alguém nunca é legal, é bom criar sua personalidade se baseando naqueles que admira. Minhas outras referências são os irmãos Coen, Vince Gilligan, David Chase, Jonathan e Cristopher Nolan e Steven Spielberg.
RB – Outra característica da produtora é sempre optar por não-atores. É por escolha ou falta dela?
WS – Até tentamos colocar atores de verdade para interpretarem o Lucas e Beto no nosso primeiro curta A Banca, mas não deu certo. A verdade é que sempre foi mais prático trabalhar entre amigos. Quando eu escrevia os diálogos, acabava pensando na personalidade de algum conhecido ou amigo que eu sabia que seria desinibido o bastante para interpretar. Até eu mesmo já atuei n’O Balconista. A DDA é prática, se a gente tem uma ideia na cabeça, um roteiro bem escrito, uma câmera no tripé e uma oportunidade de fazer um filme, a gente faz. Melhor perder tempo em uma pré-produção rápida, do que tentar explicar a um ator de verdade como ele deve interpretar, sendo que é mais prático chamar um amigo que tem noção e que tem a personalidade próxima do personagem que fora criado. Claro que essa atitude são para curtas-metragens que fazemos no intuito de nos divertir e divertir a quem os assiste, passando a mensagem que queremos passar. Em uma futura grande produção, isso não seria aceitável. A DDA é uma produtora independente séria, porém no momento trabalha entre amigos e longe dos livros de Stanislavski.
RB – Hoje Não, o segundo curta da DDA, tem no subtexto uma sátira a alguns curtas alagoanos, inclusive os meus. Como vocês enxergam a atual produção alagoana?
WS – Eu acredito que a A Banca tenha sido uma quebra de paradigma do cinema alagoano, eu sei que soa arrogante falar assim, mas acredito que isso seja verdade. Quando estreamos na Mostra Sururu, o público adorou, mas uma parte dos cineastas alagoanos nos criticou negativamente, nos chamando de “clichê americano”. Tudo bem, é isso o que somos, pois o clichê faz parte do cinema, mas ao falar de maneira pejorativa eu pensei: Por que a DDA é taxada como “clichê americano” e os diretores de alguns outros filmes não rotulam suas obras de “clichês de cinema europeu”? Por que fazer um filme com características do cinema americano é ruim? Eu acredito que a produção atual do cinema alagoano está mais versátil, estão lembrando que as pessoas também vão a um cinema para comer pipoca e se divertir em vez de ter que ir somente para pensar.
RB – Além de KM 58 e O que Lembro, Tenho, quais filmes são satirizados?
WS – Satirizamos Fênix dirigido por Anderson Barbosa e escrito por Pablo Casado e 19:45 escrito e dirigido por Henrique Oliveira.
RB – Quando a revista Filmologia dedicou uma edição ao cinema alagoano, A Banca foi escolhido como destaque daquela safra. Como vocês receberam essa visão da crítica?
WS – A Banca foi a primeira experiência cinematográfica de todos envolvidos na produção, por essa razão foi muito gratificante o reconhecimento que tivemos. Todos os envolvidos ficaram contentes com a visão da crítica.
RB – Eu estive na exibição de A Grama mais Verde na Mostra Sururu do ano passado. Foi curioso observar a recepção do público. Os cineastas pareciam não entender como aquele filme foi selecionado. Mas uma parcela grande do público ria durante toda a exibição. Missão cumprida?
WS – A Grama Mais Verde teve a sua missão mais que cumprida. Aquele que trabalha nesse ramo em busca somente pela aceitação da crítica e de cineastas será um profissional infeliz. Você cineasta produz um filme para quê? Para bancar o inteligente e expressar sua visão da vida através de conflitos de um personagem? Ou você quer entreter um público e fazê-lo rir, chorar, se assustar, se entreter, enfim, fazê-lo esquecer dos seus problemas pelo tempo que o seu filme passa? Se os críticos e os cineastas não entenderam ou não gostou do filme, mas o público em geral sim… Eu acho melhor reverem os conceitos desses críticos e cineastas sobre cinema.
RB – Que ambição você tem com o seu cinema?
WS – Não ser só mais um.
RB – Quais os próximos projetos?
WS – A DDA lançará este ano o seu quinto curta-metragem, que se chamará Abadom. Foi escrito e dirigido por Reuel Albuquerque e eu.
RB – Há quase dois anos você está morando em São Paulo. Como foi a transição para a nova cidade? Pretende se estabelecer e produzir aí? Alagoas faz falta em alguma coisa?
WS – São Paulo me abraçou. As produções que a DDA fez me ajudaram a abrir portas aqui, hoje trabalho como Produtor Audiovisual, tudo por causa dessas produções entre amigos que fiz aí em Alagoas. Eu pretendo seguir carreira nesse ramo e infelizmente Alagoas não tem no momento tantas portas para serem abertas. São Paulo está sendo no momento a minha realidade, porém não a minha meta de vida. Se Alagoas faz falta? Claro, minha família e amigos estão aí. Que saudade do céu, do sal, do sol… Brincadeira, odeio essa música.
RB – Você é frustrado com os editais de Alagoas. O que pensa sobre eles?
WS – A verba disponível nesses editais é ínfima e desrespeitosa para aqueles que trabalham nesse ramo. Não precisa ir muito longe para ver que está errado, em Pernambuco, por exemplo, o cinema é mais valorizado e disponibilizam mais verba e mais editais. Não sou frustrado, pois não tentei participar de tantos. Mas vi como funciona. Fiz um documentário falso pela DDA chamado “#Sururu” e é sobre a visão que esses editais transmitem. Grosso modo de dizer, se você não abordar em seu projeto Sururu ou Coco de Roda, você não é aceitável.
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