Cobertura: 14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

14ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 08 de dezembro de 2023

Com curadoria de Marina Bonifácio, Regina Barbosa e Ziel Karapotó a sessão desta sexta-feira (08 de dezembro) foi composta pelos videoclipes Vermelho, de FLORA (2023), Dezembro, de Bárbara Castelões (2022), abajur, de LoreB e renanrenan (2023). 

Em Vermelho temos um cenário centrado na cor que dá nome ao vídeo e uma referência aos anos 1980, pulsante, contendo uma vibração ao tempo que se centra na personagem FLORA, diretora de arte, envolta de azul trazendo uma leve harmonia à cena, provocante. Bárbara Castelões faz uma homenagem às vítimas da Braskem, o mar de Maceió, uma ode à calmaria. Em abajur temos uma encantadora animação, com leveza, fluidez, perceptível integração da composição sonora cativante na voz de LoreB. 

Na sessão de curtas-metragens tivemos “Luz, Câmera, Produção!”, de Adriana Manolio e Charles Northrup (2023), filme híbrido, mostra em tom cômico o dia a dia de profissionais da produção audiovisual, os processos dessa profissão, os perrengues enfrentados desde a pré-produção à desprodução. O curta é dinâmico e possui leveza, fato este que tirou muitas risadas do público presente. 

Maceió é um Ovo”, de Carlos Alberto Barros (2023) é um recorte de registros de ensaios teatrais, em preto e branco temos uma composição de grupo de atores que questionam sobre ser artista, trata-se de uma crítica social sobre viver da arte e se manter. Isso sempre foi pautado em muitas peças de teatro na Capital, e ainda se mantém, estamos em 2023 e esse questionamento, com projetos de Leis que foram aprovados para o setor cultural, é pauta da classe, que se vê tendo que comprovar quem é de fato artista e o mérito para ter um projeto cultural aprovado. Questionamentos como a demora de recebimento de cachê ou até mesmo a falta dele, é um dos componentes do filme. 

Arapiraca esteve presente na Sururu com o filme “O canto”, com direção de Izabella Vitória e Isadora Magalhães (2023), e que participei com a direção de produção. Um filme acerca dos cantos de trabalho presentes nos salões na prática dos destalos de fumo. A personagem principal dessa trama é a mestra Rosália, ela que faz parte do grupo das Destaladeiras de Fumo de Arapiraca (que durante décadas esteve com o Mestre Nelson Rosa a frente do grupo se apresentando por todo o país). 

O canto mostra uma mulher que na sua simplicidade de vida do campo, inseriu o que aprendeu no seu labor, como forma de sustento, e o quanto isso pode repercutir em sua vida, religiosidade e na sua comunidade. 

“Habito”, curta-metragem híbrido de Fernando Santos (2023) morador de uma cidade do interior de Alagoas (União dos Palmares), tem a memória como afeto das vivências, a mãe como representação de força para o diretor, que narra a sua história, de trabalhador rural em usina canavieira a estudante de cinema em Cachoeira (BA). Fernando faz uso de seus conhecimentos audiovisuais nas gravações documentais do cotidiano de sua mãe (Maria Cícera Ferreira), fala de sua admiração pelo cinema e de como conheceu o cinema nacional e viu que em Alagoas havia uma crescente na produção cinematográfica. A direção de fotografia faz inteligente uso dos enquadramentos e da composição de cena.

Dário Júnior (2023) nos aproxima de sua personagem em “Cabocla” na cidade de União dos Palmares, das lutas da Pastoral da Terra, permeando o Movimento de Mulheres Camponesas, o trabalho de sua personagem dentro desse movimento. Cabocla mostra o papel da educação na transformação e crescimento do indivíduo. Pontuando outros saberes e fazeres como forma de integração na sociedade. 

O desenvolvimento dos assentamentos no interior de Alagoas e o papel das famílias que produzem no campo. 

As doceiras de Riacho Doce, nome que dá título ao primeiro curta-metragem dirigido por Vanessa Mota, tomaram conta do Arte Pajuçara e da tela do cinema, o filme é um registro do trabalho executado nas casas de farinha desse bairro que fica na capital alagoana. Mulheres que exercem esse ofício há anos, passado de geração para geração. “Riacho Doce” (2023) é guarda da memória, dos que já se foram ou daqueles que ali ainda permanecem.  As imagens de arquivo, de Celso Brandão, inseridas no curta, dão um dinamismo.  

O filme de Aldia Sampaio “O que eu vejo”, (2023) aborda a temática do assédio, seja ele  no local de trabalho, na rua ou no lar. Nos causa angústia, sufoca, isso já nos antecede com o tipo de filmagem que é proposto. No avanço da trama a angústia se intensifica, são treze minutos sufocantes. 

Desejo e repressão sexual estão latentes em “Queima minha pele”, curta-metragem de Leonardo Amorim (2023), uma ficção potente e que já insere mais uma vez o audiovisual alagoano no cenário de mostras e festivais internacionais. Júlio (Liev Volk), jovem estudante de medicina, nutre um desejo reprimido pelo amigo de seu irmão, desejo platônico, alimentado pelas imagens de mídias digitais. Até onde vai tanta volúpia? 

O flerte entre homens héteros é algo mais comum do que se imagina, a famosa “broderagem”, concessão dessa necessidade de se afirmar e estreitar a linha tênue do desejo pelo outro, mascarada de “brincadeira”. O personagem de Caio, interpretado por Luciano Pedro Jr., faz essa oscilação, ora brinca, ora encara, ora se mascara. 

Rodrigo (Lucas Carvalho) é o irmão que ali se apresenta como mediador desse conflito, do desejo que seu irmão nutre pelo seu melhor amigo, é ele quem dá o contrabalanço nessa trama conflitante, cercada por símbolos do cotidiano masculino que não pode se representar como tessitura frágil. 

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