COBERTURA | 8º Festival de Cinema Universitário de Alagoas – 1º Dia

Texto: Janderson Felipe. Revisão: Larissa Lisboa

O segundo dia do Circuito Penedo de Cinema 2018 teve o início da oitava edição do Festival de Cinema Universitário de Alagoas, numa sessão que já mostra um apreço maior ao risco e a experimentação proposta por aqueles que estão iniciando a carreira como realizadores. Entre as temáticas que emergiram a maternidade circunscreveu sobre as relações familiares, a ausência da paternidade e o reforço da tradição sobre a opressão de jovens mulheres e crianças.

Foto: Ulisses Arthur

Mãe? (Dir. Antônio Victor)

Um filme que no primeiro plano já diz claramente sua mensagem, em que Miguel ainda criança, tem seu entusiasmo podado para se adequar ao que a mãe lhe impõe. A maternidade é colocada num lugar de conflito e repressão, por uma mãe que se sente autorizada a intervir na vida e no corpo do próprio filho. Passando pela homofobia exposta no controle do corte de cabelo, na desconfiança das amizades, na retirada de escolhas do filho. Apostando muito numa construção imagética a partir do descompensado, sempre mostrando Miguel deslocado do quadro ou do tempo, mas que se contrapõe na bela cena da festa em que o adolescente toma todo o quadro numa iluminação colorida neon e tem seu primeiro beijo. Dentro desse gerenciamento da mãe sobre o filho, a resolução é frágil e não dá conta da força imagética por se perder em saídas fáceis do roteiro.

Impermeável Pavio Curto (Dir. Higor Gomes)

Muitas coisas estão quebradas na vida de Jaque, a começar por sua bicicleta, no bonito plano que abre o filme, onde a jovem furiosa tenta consertar sua bicicleta tendo ao fundo a periferia mineira de Sabará. Uma marca do curta é a crença na atuação de suas duas atrizes Kauane Tarcila e Juliana Floriano, em que parece existir uma sintonia com os filmes de André Novais de Oliveira, na forte presença de sua protagonista, no canto da tia, na criação de um naturalismo honesto que capta o dia a dia dessa jovem deslocada na escola que tenta resolver as coisas com seu pavio curto, mas que com a tia, tem bom relacionamento, e procura obedecê-la e se encaixar nos seus pedidos. Jaque é energia que precisa pulsar.

À Espera (Dir. Nivaldo Vasconcelos e Sónia André)

O discurso potente do segundo curta da parceria iniciada em Mwany entre Nivaldo Vasconcelos e Sónia André, agora com ambos na direção, é dado através da sintonia que existe entre o apuro visual e a potência temática, que é nova dentro de uma cinematografia alagoana, por ser a primeira coprodução alagoana-moçambicana, que se sustenta firmemente em revelar as condições que jovens mulheres e crianças moçambicanas que passam por um ritual tradicional que as “transformam em mulheres” e assim potenciais mães. O filme se assume quanto explicativo, mas não a utiliza como uma muleta didática por ter coisas a dizer que ainda não foram ditas. É a materialidade da espera na vivência de mulheres africanas, que se torna esperança por reconhecer a capacidade transformadora que essa juventude possui.

Seja Bem-Vindo (Dir. Lucas Piloto)

Somos jogados no olhar do bebê que deve conviver com as bizarrices de sua família burguesa paulistana. O uso da linguagem da câmera toda em ponto de vista do bebê, nos coloca no papel de participantes desse jantar cheio de constrangimentos e “tortas de climão” que deixa o primo envergonhado com perguntas sobre namoradinhas e faculdade. A sacada é a do bebê estar nessa posição de controle sobre a família recusando a comida de cada membro da família, a mãe protetora, as tias que paparicam e a avó sem jeito, acaba por ser uma comédia de erros pela série de vergonhas alheias familiares, o aceite do bebê pela comida dada pelo primo é o desabafo pela saturação dessa família retirada de uma novela das 9.

Uma programação que coloca a maternidade num lugar de discussão por ser apresentada num tom repressor ou ausente e também na imposição como único destino de vida para a mulher.

Hoje, quarta-feira (28), o 8º Festival de Cinema Universitário de Alagoas continua às 19:00.

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