COBERTURA | 8º Festival de Cinema Universitário de Alagoas – 2º Dia

 

Texto: Janderson Felipe. Revisão: Larissa Lisboa

A oitava edição do Festival de Cinema Universitário está se localizando como um espaço de abertura para curtas universitários que buscam a experimentação estética, trabalham sobre a limitação financeira e material, e em sua segunda sessão traz filmes diferentes em temáticas mas que conversam justamente por ser filmes que se desdobram dentro de seus limites e a partir da reinvenção.

Foto: Higor Gomes

Tetê (Dir. Clara Lazarim)

A primeira parte da sessão é formada por uma dupla de documentários que tratam de artistas em diferentes polos, iniciada por Tetê, um filme que imerge na vida criativa da artista Tetê Espíndola a partir da sua inspiração retirada da natureza, o que faz desse espaço rodeado de pássaros, cigarras, fontes d’água e árvores, uma continuação da obra da cantora. Se fazendo de uma montagem inteligente cheia de jogos entre a Tetê das imagens de arquivo e a Tetê de hoje que toca numa mata e canta com os pássaros, uma construção de exaltação da artista que não está em nenhum momento de contradição, mas sim numa elevação da sua aura quanto deusa da natureza.

Entre a Rua e o Palco (Dir. Dayvson Oliveira, José Esmerino, Maykson Douglas e Thalis Firmino)

O fazer do cinema universitário esbarra numa série de dificuldades, uma delas é a limitação de material técnico que muitos desses alunos não possuem, o que fica perceptível no curta alagoano, na captação de som e imagem prejudicadas, mas é também do processo do fazer de quem produz se apropriando das dificuldades.

A história de Natasha Wonderfull, já foi contada no cinema alagoano em Wonderfull – meu eu mim (Dir. Dario Jr.), só que agora além de a vermos dividindo a tela com Cindy Bellucci, aqui vemos mais a Natasha militante do que a Natasha artista, se colocando como liderança política da causa de pessoas trans que estão em busca de empregos. O filme toma uma postura a partir de sua montagem paralela das narrativas de Natasha e Cindy, as colocando em posição de igual legitimidade, onde Natasha assume a postura de luta por emprego para fugir da prostituição enquanto Cindy ainda reconhece a prostituição quanto um lugar de necessidade para sua sobrevivência, o filme apresenta um olhar único ao não julgar essas personagens.

Cravo, Lírio e Rosa (Dir. Maju de Paiva)

A segunda metade da sessão foi marcada por filmes de ficção que experimentam dentro do cinema de gênero. A começar pelo filme carioca que abraça a iconografia do cinema de horror, para contar a história de duas irmãs que estão passando por processos particulares, Cê, a irmã mais nova, desenvolve a habilidade de falar com os mortos, lida com o bullyng na escola e a solidão. Sara, a mais velha, na sua descoberta sexual vampiresca tem que enfrentar o mundo do machismo. Uma construção de universo que remete as obras de Anita Rocha da Silveira, onde parece ocorrer uma ânsia carioca de falar sobre a juventude feminina através do cinema fantástico, a partir de uma montagem que faz uma aposta intricada.

Cartucho de Super Nitendo em Anéis de Saturno (Dir. Leon Marx Freitas)

Da bicicleta quebrada de Jaque, em Impermeável Pavio Curto (de Higor Gomes) exibido no primeiro dia, temos a primeira cena de Cartucho de Super Nitendo em Anéis de Saturno, onde o seu protagonista, um jovem negro está perdido com sua bicicleta quebrada numa encruzilhada de Fortaleza. O início para uma viagem afrofuturista, que através da linguagem de vídeo game fala sobre a estrutura racista da sociedade, onde seu protagonista ao lado de seu guia de fases (que remete ao imaginário africano do griot). O paralelo da perseguição policial, como a fase de um jogo de fuga, e toda a construção imagética racista em que o personagem está preso numa  cadeira de força a assistir imagens do grupo Ku Klux Klan em O Nascimento de uma Nação (Dir. D.W. Griffith), praticamente uma alusão a tortura sofrida pelo protagonista de “Corra” (Dir. Jordan Peele). Leon hackea todo esse jogo estabelecido numa plataforma racista para explodir a tela com sua divindade afrofuturista que remete muito as pinturas digitais de Manzel Bowman, esse é o jogo onde o preto vence, onde o cinema vence.

Hoje (29), quinta-feira (28), será o ultimo dia do 8º Festival de Cinema Universitário de Alagoas, às 19:00.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*