COBERTURA | 8º Festival de Cinema Universitário de Alagoas: Impressões

À Espera (dir. Sónia André e Nivaldo Vasconcelos)

Texto: Janderson Felipe. Revisão: Larissa Lisboa

Melhorias sobre um festival que ainda busca sua identidade

O espaço de produção de cinema universitário está muito ligado ao fato de ser visto como um lugar de experimentação, de encontrar o seu olhar e estética que se desenvolvem no meio acadêmico, dentro do que são as limitações de cada universidade, muitas em não serem especificas de cinema, outras por não darem o suporte técnico e material necessário para os alunos, por isso se imagina que um festival de cinema universitário estaria em consonância com a realidade dessa produção e assim abraça-lá.

Nisso a curadoria e a programação da oitava edição do Festival de Cinema Universitário de Alagoas parece bem mais afinada que a edição do ano passado do Circuito Penedo de Cinema, primeiramente por saber abraçar filmes que superam suas limitações orçamentárias e investem em narrativas para além do usual, e principalmente por ser bem mais diversa regionalmente, com predominância de filmes do Nordeste.

Mãe? (dir. Antônio Victor)

O fato de ser uma edição onde se abriu tanto espaço para falar sobre a maternidade, as prisões postas sobre o corpo feminino e principalmente por ter tantas protagonistas não é à toa, 9 dos 15 filmes possuem mulheres na direção, além de ter filmes de realizadores negros que comentam sobre o racismo e falam sobre as periferias do Brasil, passando por filmes de temáticas LGBTQI+, um reflexo de uma pluralidade de vozes alinhadas as discussões que existem dentro do circuito de festivais de cinema brasileiro.

Dentro da diversidade do festival a programação soube criar uma narrativa que conectasse todos esses filmes ao iniciar com filmes cercados pelo medo e a intolerância, passando pela extrapolação dentro do cinema de fantasia, a abertura para filmes experimentais e por fim ao abraçar a esperança e a liberdade do corpo. Sendo uma edição que se coloca como contemporânea e atualizada, não só por seus filmes, mas por reunir as forças de cada um e propor discussões tão importantes para o cinema e o Brasil atuais, mostrando o quão potente podem ser espaços como os festivais de cinema reforçando a sua importância para a cidade e o estado.

Primavera de Fernanda (dir. Débora Zanatta e Estevan de La Fuente)

O acerto da curadoria do 8º Festival de Cinema Universitário não reverberou no 11º Festival do Cinema Brasileiro, e continuou a toada da edição anterior sendo bem distante do que se espera para representar a brasilidade no festival, esta edição teve apenas 2 filmes dirigidos por mulheres e 1 filme de um diretor negro, entre os 15 filmes do festival, apenas 2 filmes do Nordeste e 11 filmes do Sul/Sudeste, partindo de uma desconexão de narrativa dentro do próprio festival ao construir sessões desconexas entre os filmes, sendo uma repetição do ano passado ao ser um festival que parece mais preocupado em buscar um ideal de excelência técnica e presença de figuras globais em tela, com sessões que deixam um gosto amargo.

As respostas vieram na própria premiação onde o Júri Popular abraçaram os dois filmes alagoanos À Espera (dir. Sónia André e Nivaldo Vasconcelos), no Festival de Cinema Universitário e Avalanche (dir. Leandro Alves), no Festival do Cinema Brasileiro, onde o filme de Sónia André e Nivaldo Vasconcelos fez a dobradinha com o prêmio do Júri Oficial.

Sobre a edição do ano passado ficou o sentimento de dissonância, na edição de 2018 do Circuito Penedo de Cinema essa sensação diminuiu, mas fica no imaginário o potencial que o Circuito pode ter se tivesse curadorias que conversassem entre si e amadurecessem o alinhamento com o cenário de mostras e festivais, alguns caminhos já foram apontados.

Avalanche (dir. Leandro Alves)

 

Acesse a cobertura completa dos três dias do 8° Festival de Cinema Universitário de Alagoas aqui

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