Cobertura: Dália da Serra – 13º Curta Taquary

Texto: Roseane Monteiro. Revisão: Fabio Cassiano e Larissa Lisboa.

Das diversas mostras que integram o 13º Curta Taquary, escolhi a Mostra Dália da Serra para acompanhar. Essa curadoria é centrada em filmes realizados em oficinas de produção em audiovisual, que para mim foi uma grata surpresa.

Em um Brasil continental e desigual, alguns Estados não possuem formação qualificada em Audiovisual, ou seja, não há curso universitário e as vezes nem de nível técnico disponível gratuitamente para a população. Desse modo, o fazer cinema está atrelado a pessoas com mais poder aquisitivo, no caso brasileiro, pessoas brancas e de classe média, fato que acaba gerando padrões hegemônicos de representações e narrativas.

O diferente geralmente acaba sendo registrado como nos primeiros documentários de Robert Flaherty em Nanook, o Esquimó (1922). Entretanto, os Nanooks de hoje são as comunidades indígenas, quilombolas e os coletivos das comunidades urbanas. Mas o que me surpreende é que através da acessibilidade das tecnologias e das oficinas de produção em audiovisual, nós temos o protagonismo tanto das narrativas e como das representações, temos o direito de ser contra-hegemônicos, contra a corrente… E por isso a importância da Mostra Dália da Serra.

Dos dez filmes selecionados pela a curadoria, chamou a minha atenção alguns deles como por exemplo: Ana Terra (Direção coletiva), Reinado Imaginário (dir. Hipólito Lucena), Mbya Arandu: saber guarani (dir. Gabriel Alves, Júlio Benites, Andrielly T. da Silva, Marisa Beatriz T. Menites, Nelson C. C. Gimenes, Edson A. Timóteo, Marcelina Timóteo, Mila Acosta, Adriano, Neli Mombelli, Heitor Leal, Tayná Lopes e Paulo Tavares) e A Menina da Ilha (dir. Coletivo Cinema no Interior ).

Mbya Arandu é um curta-metragem onde o saber e a filosofia dos Guaranis são perpetuados em meio a floresta, assim como, é um pedido de conscientização com a Mãe-Terra. Os diretores são moradores dessa comunidade indígena.

A Menina da Ilha apresenta uma bela fotografia, principalmente das paisagens do Rio São Francisco. A ficção permeia entre o lúdico e a realidade, para falar de machismo e de como isso afeta na educação das mulheres. O filme essencialmente retrata o abandono e sonhos de uma adolescente.

Reinado Imaginário é um curta-metragem híbrido que cartografa tanto ambientes físicos como personalidades ditas como régias. Essa peculiaridade de uma cidade do interior da Paraíba é registrada com bom humor para exibir esses rastros culturais presentes no nordeste do Brasil.

Ana Terra tem uma força incrível, o filme tem a energia e a presença inspiradora de sua protagonista. Com imagens de arquivo e a intercalação de depoimentos, Ana Terra dialoga com a forma documental. Esse filme mostra o espaço que Ana ocupa, o calçadão do centro de Arapiraca, as paredes da cidade, o camarim e os palcos. O mérito desse documentário foi condensar a narrativa de Ana e registrar a memória para além da cidade de Arapiraca.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*