Cobertura: Encerramento da Mostra Sururu de Cinema Alagoano

Texto: Céuva. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: Vanessa Mota.

A representação feminina interseccional vem aos poucos ganhando novas perspectivas e direções encabeçadas por mulheridades, num cinema alagoano atravessado por diversas trajetórias políticas socioculturais regionais e nacionais. Em meio a uma narrativa que aciona prospecções desbravadoras e famintas por novos imaginários, a 15ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano protagoniza mulheres diretoras que constroem um novo olhar sobre corpa, território, sociabilidade e cultura, com um curadoria majoritariamente pensada por mulheridades. Em suas dezesseis obras exibidas no Arte Pajuçara, nove são dirigidas por mulheres, com muitas equipes massivamente ocupadas pelas gatas em cargos de liderança. 

A partir do movimento que questiona o lugar da mulher no cinema alagoano e lança olhar aos horizontes insurgentes, a noite de premiações arrematou sua trajetória de prospecções entre passado e presente homenageando Regina Barbosa, produtora, diretora, roteirista, realizadora e escritora, nascida em Taquarana e crescida em Arapiraca. Sempre instigada ao conhecimento, é pela veia artística do pai que começa a conhecer e explorar o cinema e se aventurar no exercício cineclubista que forma seu olhar crítico. Inicia seu trabalho nos anos ‘90 e se torna uma das fundadoras da ONG Ideário em 2002, em que exerce um papel marcante para a produção cultural alagoana.

Na escrita, publica o livro “Como elaborar projetos culturais?” que parte de sua inquietação frente aos processos de fomento público, o livro está em sua terceira edição lançada em 2023, além de criar contos de literatura infantil que, ainda pela Ideário, foram distribuídos na rede pública de ensino. No cinema além de produzir também dirigia, DJ do Agreste, A flor da casa e Um vestido para Lia são frutos do seu olhar. A multiartista participa da primeira Mostra Sururu em 2009 com Dj do Agreste e da segunda em 2011, com Um vestido para Lia, que ganha o prêmio de melhor roteiro da edição – filme este exibido antes da cerimônia da primeira homenageada viva da história da Sururu. Em seu discurso final, para além dos agradecimentos, comenta sobre seu desejo fervo de produzir e acolhe o pioneirismo do seu trabalho que abriu portas e proporcionou debates sobre as mulheres no audiovisual alagoano, atenuando a importância de mais divas fazerem deste o seu espaço.  

A premiação esse ano foi justa e coerente. Olhar a abrangência de narrativas que cooptam o futuro numa deliberação certeira e ampla que considerou a história contada pela mostra, deixou a sensação de um júri aberto às possibilidades e experiências movidas pelo cinema alagoano a cada justificativa.  Entre as premiações um destaque maior para Entre Corpos, que levou os prêmios de Olhar da crítica, pelo não dito que a imagem planta; Melhor Direção de Arte, que elabora sugestões do estranho e desfaz o óbvio; Melhor Atuação, pelo trabalho absurdo de Ticiane Simões em fazer do sádico uma colagem retalhada e transgredir as dimensões do desejo; e Melhor Direção, pela orquestra dos elementos tenros e cruéis em redimensionar o normal e se fazer crítica. 

A 15ª Mostra Sururu de Cinema alagoano no dia 15 de dezembro chega ao fim, declarando o espaço das mulheridades para além da representação, enquanto potência indescritível que semeia, gesta, feri, e infecta a consciência coletiva do cinema.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*