Texto: Emanuella Lima. Revisão: Larissa Lisboa. Imagens: Circuito Penedo de Cinema - Kamila Rafael e divulgação.
Os filmes exibidos no terceiro dia da 11ª edição do Festival de Cinema Universitário Alagoano, foram um pouco diferentes dos reproduzidos nos dois primeiros dias do evento. Com uma pegada mais futurista e conectada com o público, os quatro filmes da noite marcaram presença pela simplicidade e entusiasmo, fugindo da sombra do novo coronavírus. A curadoria teve o olhar de buscar reacender a trajetória humana, falando não somente de ausências, mas também do desejo do reencontro.
É assim que a terceira sessão do Festival se inicia, com o filme Reconexões (dir. Carolina Timoteo) que se expande pela tela do cinema montado na Praça 12 de Abril. Temos ali o abraço da saudade, misturado com a utopia de mergulhos interiores em meio ao isolamento social causado pela Pandemia do novo Coronavírus. Nesse contexto, nos debruçamos em um auto retrato pandêmico, onde sentimos saudades do mar e do som de suas ondas. Dentro de casa, estamos sendo bombardeados de notícias e até algumas várias fake news, sem saber ao certo quando todo esse caos vai acabar, buscamos refúgios em nossos sonhos e nos mais profundos espaços de nosso interior. Estamos além, no desejo fugaz pela reconexão com nós mesmos. É nesse lugar que nos encontramos no filme, entre a saudade e o encanto da sobrevivência.
O curta Grand Canyon dirigido por Pedro Estrada é uma animação montada em preto e branco que fala sobre o desejo de viver em um espaço sideral. No filme, o personagem Aurélio mora sozinho na cidade de Belo Horizonte e vive à sombra de seus pensamentos que o leva a devaneios sobre a existência de alienígenas e de outro planeta. O desejo pela abdução e a ressalva que o faz pensar sobre a possibilidade de morrer ao tentar tirar fotos no Grand Canyon assim como aconteceu com dezenas de turistas (fato contado em um jornal que chamou bastante a atenção do personagem) nos Estados Unidos andam lado a lado ao longo da trama. No centro da cidade, Aurélio ainda confuso em seus pensamentos conta as histórias sobre a época em que fotografava, de quando ganhou seu primeiro celular, sobre o pai do dono da barraquinha de jornais ou como seu nome foi escolhido por sua mãe que colecionava revistas e sonhava tomar champanhe na praia com a Xuxa. O filme vai de um extremo a outro e nos faz perceber o quanto nossa vida não é linear e como podemos estar em vários lugares ao mesmo tempo dentro de nossos pensamentos.
Quarta é dia de jogo (dir. Clara Henrique e Luiza França) é um documentário que mostra como a semana muda nos dias de jogos de futebol na cidade do Rio de Janeiro. A rotina de alguns trabalhadores é exibida no curta como forma de ilustrar essa situação comum na vida das pessoas que moram naquela cidade. Independente dos percalços e das frustrações da semana, se tem jogo na quarta-feira tudo muda de figura. Através da programação da rádio “Bafo de Onça” ouvimos o filme como uma narração de futebol e pensamos que mesmo se o primeiro tempo for ruim e cansativo, a segunda parte do dia pode ser marcada por muita alegria.
O curta experimental Praia dos Tempos dirigido por Luan Santos nos lança sob uma viagem de imagens fragmentadas e partilhas. Nesse curta de 10 minutos somos convidados para o imaginário de uma jovem que vive à margem da reconciliação consigo mesma. E entre despedidas e reencontros se enxerga de diferentes formas durante esse processo. Na “praia dos tempos” essas memórias se cruzam e se conectam trazendo serenidade para suas aflições.
O último curta exibido pelo 11° Festival de Cinema Universitário Alagoano, foi Miado (dir. Vitória Silvestre), uma animação nenhum pouco convencional e que em poucos minutos me rendeu boas gargalhadas. Dentro de uma casa de repouso para idosos, o gatinho Nick mia na porta do inquilino que aparece morto algum tempo depois, nesse enredo, o gato ganha a fama de vidente da morte e o mal presságio sempre acontece quando ele dá um certo miado. Reconhecido por seu estrelismo fatídico, o gatinho escolhe suas vítimas, mas se decepciona quando não consegue prever a morte de Dona Socorro. Inconformado com a situação, Nick resolve fazer um veneno para matar a senhorinha e acaba tomando algumas doses também. Mas, eles não morrem, o que acontece de fato é uma troca de corpos. Nick passa a viver no corpo de dona Socorro e ela no corpo do gato. Fissurado pelo desejo cruel, Nick tem uma nova ideia, o que ele não espera é que seu plano falhe mais uma vez.
As mostras serão tanto no formato online quanto no presencial. A programação completa do Circuito poderá ser vista no site circuitopenedodecinema.com.br Os textos sobre a cobertura do Circuito Penedo de Cinema estarão disponíveis aqui.
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