Cobertura: II Festival de Cinema de Arapiraca – 2º dia

Texto: Letícia Melo. Revisão: Kátia Barros 

A primeira noite de mostras competitivas no II Festival de Cinema de Arapiraca foi composta por dez curtas-metragens marcados pelo protagonismo negro e indígena, além dos destaques para personagens da terceira idade em alguns filmes. Um deles, o simpático seu João, protagonista de Cabocolino (dir. João Marcelo Alves – PE), esteve presente no evento e nos deu um gostinho do que veríamos em seguida. 

MOSTRA NAVI

Rosas Brancas (SP) foi responsável por abrir as exibições da noite. A animação dirigida por Diego de Oliveira e Valentina Angel, é ambientada na Bahia e conta a história de uma garota que está sofrendo porque sua irmã caçula está no hospital, mas ao ouvir a música de um desconhecido é tomada por uma imensa alegria. Sem diálogos e sempre conduzido pela música, a obra é uma singela homenagem às tradições baianas. 

Um dos destaques da noite foi o experimental Crisálida (SP) que é composto por fotografias estáticas em preto e branco. O diretor Igor Ferreira Domingos traz questionamentos e discorre sobre a pele negra e o que ela representa na sociedade através de imagens tocantes e expressivas. Já o documentário Travessia (RJ) dirigido por Alexandre de Freitas Maciel, é um registro sobre a criação e os bastidores de um espetáculo de dança contemporânea que representa a trajetória das vidas negras no nosso país. É interessante e potente, mas deixa a desejar ao não apresentar o espetáculo em na íntegra.

MOSTRA NORDESTE

O videoclipe/documentário de Lia de Itamaracá abre a mostra com a direção de Lia Letícia em Dorme Pretinho (PE). O filme homenageia as mulheres que, assim como a mãe da cantora, tiraram seu sustento e alimentavam seus filhos através da coleta de mariscos nos mangues. 

Em seguida, foram exibidos dois documentários sobre dois senhores extremamente simpáticos. O primeiro foi Tesouro em Carros de Barro (BA), de Vinicius Rios, no qual somos apresentados ao senhor Fernando, um artesão que fabrica miniaturas de carros utilizando o barro. O filme faz com que o espectador se sinta um amigo do protagonista enquanto ele conta sobre esse hobby que iniciou em sua juventude e fala com empolgação sobre seus carrinhos. O segundo foi o já citado Cabocolino, que conta a história de João de Cordeira, homem que luta para manter a tradição familiar do Bloco de Caboclinhos do Sítio Melancia no Agreste pernambucano. João Marcelo Alves, diretor do curta, mostra também a jornada do fabricante em busca do solo do seu antepassado intercalando com imagens do artista brincando o carnaval.

Encerrando o segundo bloco de mostras, Maninha Xukuru-Kariri (AL), de Celso Brandão e Aldemir Barros, fala sobre a trajetória da líder indígena da cidade de Palmeira dos Índios – AL e do legado que ela deixou para a sua comunidade. Apesar de importante, o filme por vezes se torna arrastado e cansativo.

MOSTRA BRASIL

A Cicatriz Tatuada (SP), de Eugenio Lima, Gabriela Miranda e Matheus Brant, é um curta experimental com uma proposta interessante de fazer uma relação entre histórias negras e indígenas, mas acaba se tornando pretensioso e confuso. A ficção Penélope (SP), dirigida por Luciana Jacob, retrata a mulher que é abandonada e que não sabe lidar com esse trauma. A conclusão da trama, goste ou não, evidencia a solidão e confusão na qual a personagem se encontra.

O responsável por encerrar a noite foi o curta dirigido por Juliana Segóvia, A Velhice Ilumina o Vento (MT), o que mais gerou reações sonoras positivas da audiência presente. Isso se deu por causa da personagem Valda e de seu enfrentamento frente a sociedade machista e etarista para viver sua vida da forma que deseja. Alguns diálogos são forçados e a protagonista não é uma excelente atriz, mas o resultado final da obra foi positivo e pareceu agradar a maioria.

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