COBERTURA | IX Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 1º dia

Parteiras (dir. Arilene de Castro)
Texto: Janderson Felipe. Revisão: Larissa Lisboa

Imergindo pela praia de Coruripe, a varanda da casa de Fernanda Bravo em Portugal, as fachadas da antiga Penedo, passando pelos quintais e casas do agreste alagoano até as ruas de Teotônio Vilela. Esse foi o tom dado na primeira sessão da nona edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoano repleta por filmes do interior de Alagoas e até o exterior que falam sobre a morte e a vida de diferentes formas.

Leve A’mar (Dir. Kátia Rúbia)

Um filme ao assumir um gênero cinematográfico passa pela necessidade de reafirmar ou subverter as lógicas que constroem tal gênero, no caso do filme arapiraquense a dificuldade está em se conter para fazer o jogo necessário até o ponto de torção na narrativa que pede o melodrama, onde o gerenciamento da atuação de seus protagonistas vai muito bem, como no ótimo tempo de humor da cena em que os protagonistas encontram o vendedor de coco na praia, mas que através da escolha fotográfica e de montagem ao transitar de planos duros bem enquadrados para imagens de drone causam estranhamentos, fazendo da cena de maior apelo dramático não causar o impacto desejado ao ser projetada.

Bravo (Dir. Alfredo M. Pontes)

São vários os filmes de abordagem etnográfica sobre personagens na cinematografia brasileira, em Bravo o registro sobre Fernanda está ligado à sua vivencia no exterior quanto mulher transexual imigrante, um registro único dentro da filmografia alagoana. Parece que Fernanda sempre está vivendo através do deslocamento seja ele pelos que a vida lhe causou, seja pelo deslocamento territorial que a faz ser um espírito de constante resiliência, como na cena em que ela toma a câmera pela mão e diz que vai voltar ao Brasil antes do que desejava porque será melhor para a própria saúde, sempre muito consciente ao se abrir para a câmera que a acompanha dia após dia.

A Última Carta (Dir. Eduarda Marque e Sérgio Onofre)

Um filme que parece perdido no tempo, ao se propor quanto exercício de alunos secundaristas é perceptível a falta de orientação, onde o filme está posto num local de falar sobre a juventude da cidade de Penedo, que passam pelas fachadas e ruas da época colonial, mas que está envolto de uma narrativa antiquada, onde jovens não falam como jovens, e sim como fossem senhores saídos da mais nova novela global, diante de um moralismo punitivista, ao representar a gravidez na juventude que tem o aborto como uma saída para o abandono e solidão de jovens mulheres, mas que se resulta apenas em morte. Apesar de se ter uma boa vontade ao se falar sobre a temática para um público mais jovem, a narrativa por ser focada toda no personagem masculino que abandona a namorada grávida, é um retrocesso para a discussão que se existe sobre a temática atualmente ao colocar a morte e sofrimento dessas mulheres dentro de uma narrativa unilateral e masculina.

Parteiras (Dir. Arilene de Castro)

Arilene de Castro cria uma colcha de retalhos sobre o consciente e conhecimento de mulheres do agreste alagoano, essas parteiras que auxiliaram o caminho para o nascimento de diversas crianças na região são as detentoras de conhecimentos humanos que podem parecer rústicos e primários hoje em dia, mas que estão tomados na verdade pela solidariedade e feminilidade. O filme é potente ao colocar essas mulheres todas de igual onde uma encaixa na fala da outra, um jogo muito potente da montagem que cria sacadas de bom humor a partir do conhecimento popular dessas mulheres.

A Porta (Dir. Robson Cavalcante e Claudemir Silva)

A dupla vilelense repete a dose da edição anterior da Mostra Sururu com a sessão de Trem Baiano, ao colocar o público em risos através do absurdo, pode-se dizer também que estão construindo um universo próprio dentro de sua pequena cinematografia. A Porta é o trabalho mais maduro da dupla até o momento, onde a partir da subversão da premissa de se estar comemorando um aniversário, temos um ano a menos de vida, e consequentemente mais próximo da morte. Mais uma vez nasce uma comédia do absurdo de situação do cotidiano, mas que agora está ainda mais próximo ao cinema de gênero, uma distopia onde existe uma depressão coletiva sobre a proximidade da morte a cada aniversário.

A IX Mostra Sururu de Cinema Alagoano dá continuidade a sua programação até domingo (16/12).

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