Cobertura: Mostra Sururu de Cinema Alagoano – 3º dia

Texto: Céuva. Revisão: Larissa Lisboa.

Estamos sendo gestados nesse exato momento, de ventres abertos o horizonte elege suas reflexões e prospecções. Neste dia 14 de dezembro, a 15ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano apresentou suas possibilidades pulsantes e urgentes. Um futuro definitivamente incerto assume suas vanguardas e linguagens, e segue deliberando sobre o hoje. 

Num momento em que a virtualização promove novos mecanismos de mercado e a experiência de imersão do videoclipe perde sentido comercial, a Mostra de Videoclipes surge pela primeira vez na programação da Sururu, reservando visões estéticas plurais, sonoridades dissidentes e ritmos distintos com muita ancestralidade, rebeldia e sex appeal. Ao longo dos doze videoclipes exibidos sentimos a verdade expressa nas trajetórias cantadas que se conectam e versam desejos e territórios compartilhados, uma ousada e inteligente junção de vozes que perfuram, infiltram e hackeiam. A mostra oportunizou o acesso da plateia aos artistas e seus processos criativos, e enquanto prospecção elegeu também o debate sobre a liquidez no consumo da imagem e a reestruturação da vida útil enquanto mercadoria sob uma negligente gestão, debate latente no período pós-pandêmico, principalmente em Alagoas, onde as ferramentas públicas não tem prezado pela transparência na execução das políticas culturais de fomento. 

Debates determinantes surgem da Mostra de Videoclipes e esbarram na Sessão Horizonte, uma sequência curiosa na programação que sugere investigar além do cotidiano e das memórias. Implicada em localizar novos territórios insurgentes e posicionar seus apoios e causas, a sessão contou com cincos filmes que trilham narrativas verticais em suas propostas. 

Barreiras: histórias e relatos de pessoas com deficiência frente ao capacitismo, dirigido por Edmilson Sá. Toque sensível atravessa corpes defiças enquanto ouvimos a audiodescrição relatar emoções, é através dos olhares que sentimos a fúria que chega mesmo nas vitórias do cotidiano e traça as reverberações do capacitismo que subestima corpes e mentes complexas em existência. Deixa seus decretos claros acerca da conscientização e acessibilidade, materializando-as em si. 

A terra é um ventre, no ato de gestar roga a liberdade de suas filhas deliberadamente cruas pelo mundo. A sequência a seguir questiona os limites das mulheridades frente às raízes misóginas que estruturam a obrigação do cuidado como essência, ferramenta, e espaço exclusivo. Três olhares que decupam e esboçam o prazer da descoberta e experimentação do ser conhecimento a partir de linguagens e formatos distintos e complementares, à medida que constroem juntos o parto que se aproxima neste horizonte.

Ana Parideira, em que a natureza genuína da corpa a leva parir flores na escolha de sentir inteira e ser livre. A animação dirigida por Juliana Barretto, é uma beleza perspicaz ao abordar os dilemas da corpa mulher ilustrando à traços em giz de cera o sangue que germina sob o direito de se apoderar da própria corpa e dar a vida em prosperidade e abundância.

Coreografar a linha da vida e surgir da terra tenra em ciência, em Berço de direção por Valéria Nunes e Amanda Môa, o documentário faz da dança método, um mecanismo que reescreve o nascimento e reconfigura os caminhos assumindo o sacrifício de ser quem é, de um berço de folhas três mulheridades forjam seus reencontros e renascem.

Cultiva, Maria! dirigido por Leonarda Brito, um documentário sobre agricultoras que cultivam na terra a fonte de sua liberdade e independência em que a trajetória e as colheitas feitas por cinco mulheres constroem seus afetos, resistências e lutas a partir da roça, refletindo sobre o impacto do trabalho e articulação das divas na sociedade.

Samuel foi Trabalhar, dirigido por Lucas Litrento e Janderson Felipe, encerra a curadoria da 15ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano como um rasgo, voltamos ao presente. A ficção constrói uma realidade visceral sobre ser higienizado de suas subjetividades e conhecimentos  enquanto uma mera  engrenagem, a dicotomia entre Samuel e a fantasia questiona as fronteiras entre eu e o trabalho num roteiro que grita territorialidade a cada diálogo. 

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*