Cobertura: O Dia da Posse (dir. Allan Ribeiro)

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

Mostra Olhos Livres | 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes – 24/01

Cada mergulho é um flash – O Dia da Posse, de Allan Ribeiro (RJ) 

O documentário “O Dia da Posse”, com direção de Allan Ribeiro, realizador também dos longas Esse amor que nos consome (2012), Mais do que eu possa me reconhecer (2015), nos mostra o jovem estudante de Direito, Brendo Washington, e sua aspiração ao cargo de presidente do Brasil.  

Com gravações realizadas em 2020, no período da quarentena em decorrência do COVID-19, temos registros do cotidiano tanto de Brendo e Allan, quanto da vizinhança. Um diário das ocorrências em um apartamento e do processo de gravação para feitura fílmica, recortes, janelas, cômodos e corpos que povoam ambientes domésticos. Essas cenas mesclam com a voz de Brendo, ao fundo, relatando sua vida na Bahia, Estado natal, da pobreza, e das lutas feitas por sua mãe para que ele e sua família não passassem fome, o jovem nos fala sobre suas idas ao curso pré-vestibular comunitário e os percalços enfrentados ao passar em um rio cheio, na volta para sua casa. O jovem sonha, deseja a medicina, a presidência da república e em participar de um reality show quando tiver estabilidade financeira, “ir para se divertir no programa”. 

Cenas comuns da quarentena, como videochamadas e os afazeres domésticos, as descobertas da culinária por meio de vídeos no Youtube, memórias afetivas feitas e refeitas. Mas o que é real e o que é ficção em O Dia da Posse? Brendo encena, faz vídeos para postar em suas redes sociais. Observa a vizinhança, os pássaros, eles já estavam lá ou apenas foram percebidos durante o processo de isolamento? Quem observa e quem é observado? A câmera manipulada tenta capturar o que antecede a posse, o desejo e o discurso. 

Da Bahia para o Rio de Janeiro na tentativa da realização de um sonho, a faculdade de Direito, morar na cidade maravilhosa. A cidade televisionada, o encanto pelo sotaque e o desejo de se sentir parte daquilo ou de incorporar o desejado. Enquanto temos a tela do celular de Allan em videochamada com seus pais e as narrações de memórias acerca de seus avós, Brendo nos narra suas memórias afetivas e resgata fotos com seus pais, irmã, e seu cachorro e lembra de sua mãe que fazia uma rudia (corda, pano ou almofada em círculo, que a pessoa coloca na cabeça para acomodar o peso que se carrega) para pôr a bacia de pratos em cima e ir ao rio perto de sua casa para lavar a louça.   

O documentário é sobre Brendo e seus sonhos, seus desejos, é um recorte do que o compõe, assim como as janelas de cada edifício em frente ao de Allan, mas poderia ser sobre mim e sobre você que viveu, enlouqueceu e tentou viver e sobreviver entre 2020 e 2021. Allan nos convida de forma tenra e poética a olhar, por meio de seus enquadramentos, para o outro, os outros e ele mesmo.     

Acompanhe a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes on-line pelo site.

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