Cobertura: Os Primeiros Soldados (dir. Rodrigo de Oliveira)

Texto: Rosana Dias. Revisão: Larissa Lisboa. Imagem: divulgação.

Mostra Olhos Livres | 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes – 28/01

Primeiro Ato – Os Primeiros Soldados (ES)

A ficção escrita, dirigida e montada por Rodrigo de Oliveira, Os Primeiros Soldados, aborda com sensibilidade um tema tão complexo quanto a epidemia de AIDS. A trama se passa em Vitória (ES) na virada de 1983, sendo uma aposta na estética, e trilha sonora com Secos e Molhados. Trata sobre as relações homoafetivas, o tempo, a vida e a morte, em uma cidade pacata, numa sociedade preconceituosa temos a arte, a fuga, a amizade, o amor, e o desejo controlado.

Há um ar de saudosismo por parte do personagem Suzano Morais, interpretado por Johnny Massaro (O Filme da Minha Vida, Doutor Gama), a melancolia está em seu olhar, nos seus gestos. Maura (Clara Choveaux – Meu Amigo Hindu, Elon Não Acredita na Morte), sua irmã, tem em si uma força, altivez

Suzano, biólogo, decide passar as festas de final de ano com sua família, em clima de despedida ele decide não ir mais com sua irmã e seu sobrinho (Joca, interpretado por Alex Bonini) à festa que ela irá, mas ali naquela cidade tem amigos de infância e um deles (Higor Campagnaro) passa por sua casa para o convidar para um evento – a inauguração de uma nightclub – mas o caminho que Suzano pretende seguir é outro. 

Nessa casa de festas quem irá cantar na abertura será Rose Moreau (Renata Carvalho), uma transexual amiga de Suzano, em Rose há um desejo pulsante de viver, de cantar, atuar, o gosto de estar no palco, mesmo com seu corpo aparentando fragilidade e a nostalgia em seu olhar, que ora ou outra parece perdido. 

Nesse ambiente descontraído, as pessoas ali presentes, gays, trans e travestis estão à vontade, entre os seus, dançam, cantam e se beijam, se divertem. Aguardam a chegada do novo ano. A atuação de Renata Carvalho (O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, Preciso Dizer que Te Amo, Vento Seco) é impactante e necessária – uma vez que ainda faltam convocações para que pessoas transexuais tenham papéis no cinema. Com uma direção de arte cuidadosa e acertada realizada por Joyce Castello, figurino de Khalil Rodor, Roger Ghil e maquiagem de Paola Giancoli, Royce Luckessi, enaltecem a década de 1980, bem como a caracterização das personagens ao retratar o processo de desgaste físico e emocional causados pelo vírus.  

Em Os Primeiros Soldados há uma luta, uma guerra contra o inimigo invisível, mas que se faz presente de vários modos, ele fere o corpo, acentua todas as fragilidades, deixa cicatrizes, vive para matar. Por não ter conhecimento profundo dessa praga a comunidade LGBTQIA+ foi a que mais sofreu, além dos danos físicos, o psicológico também foi fortemente afetado. Muitos tiveram que se separar de amigos e familiares, por receio da repulsa, a sociedade não estava preparada para atender as primeiras pessoas atingidas pelo vírus, e assim como Suzano, Rose e Humberto (Vitor Camilo), muitos tentaram sobreviver com a incerteza.

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