Crítica: Alano (dir. Sílvio Leal e Henrique Oliveira)

Texto: Vinicius Brandão. Revisão: Thame Ferreira

A APATIA DO MARGINAL

O filme Alano (2019), de Sílvio Leal e Henrique Oliveira, é o segundo curta da “trilogia dos desejos” idealizada pelos realizadores. Nesse sentido, o curta deste ano conversa com seu antecessor Ontem à noite (2015), ao passo que apresenta o mesmo defeito: a tentativa de conciliar a marginalização com o desejo.

No decorrer do filme, vemos sintomas dessa incompatibilidade. O uso do preto e branco é um deles. Sua função, a meu ver, seria a de ressaltar o desejo e esse jogo de sedução entre os personagens de Alano e Miguel, mas não é o que ocorre. Ao não apresentar elementos narrativos suficientes para consolidar aquele desejo, o uso da fotografia em preto e branco acaba ressaltando uma contradição entre os interesses da obra: a temática social é mal trabalhada e oposta a um engajamento sensorial do público com aqueles personagens.

A marginalidade de Alano não convence. Sua postura de bad boy mais cai em um estereótipo de vilão de malhação do que o enche de camadas. Suas falas parecem robóticas, em especial, os xingamentos forçados de regionalismo.

Ainda nesse contexto, devemos pensar qual o papel do uso das drogas no filme. Parece preguiçoso e moralista trata-las como suporte para as ações de mal caratismo do personagem de Alano. Não há elementos a mais no filme que lhe deem um tom menos determinista, cai tudo muito na caricatura e pouco no psique, tirando o tom dramático da obra.

O ápice dessas contradições se dá na cena de sexo entre os personagens. Em uma estética de videoclipe, destoando totalmente do restante do filme, fica bem delimitada essa apatia de desejos: uma cena sem tesão, embora graficamente explicita, em que os corpos se entrelaçam mas não convencem. Acaba enfatizando o formalismo frente a qualquer traço de sensibilidade, deixando a cena sem vida.

Enfim, falta mais poesia a Alano. Para um filme que preza tanto por dar destaque ao desejo, parece faltar-lhe consciência que este é um sentimento, e não uma forma.

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