Crítica: As Melhores Noites de Veroni (dir. Ulisses Arthur)


Texto: Leonardo Amaral. Revisão: Larissa Lisboa. Foto: Divulgação.

Veroni (Laís Lira) não é uma cantora perfeita, mas canta. Erra o tom, o ritmo, mas, ainda assim, canta. É com seu rosto em primeiro plano que abrimos o filme, uma cena inicial que faz a cara da personagem tomar o centro e a maior parte da tela. Vemos nessa introdução as tentativas, o esforço e até mesmo as caretas do processo de aprendizagem de Veroni com sua professora de canto (Fátima Menezes). Isso faz com que a ligação entre protagonista e público seja instantânea, pois nessas falhas reside a possibilidade de empatia, porém é em sua paixão pelo que faz que há a certeza.

As Melhores Noites de Veroni é um filme dirigido e escrito por Ulisses Arthur que acompanha a vida de Veroni, uma cantora de bar e dona de casa que vê seu marido (Jorge Adriani) partindo de tempos em tempos para trabalhar como caminhoneiro, deixando-a só com sua filha (Sofia Bonfim) e seu cotidiano. A história é abordada de forma realista e os conflitos presentes são tratados de forma sútil, não há pesar em questões estilísticas da forma cinematográfica, ou em dramáticos eventos narrativos.

O marido é uma personagem que se demonstra afastada, na estrada ainda que ao lado da esposa. Enquanto ela lhe fala sobre sonhos, sobre desejos, ele trata de podá-la até mesmo a possibilidade do pensamento, como quando Veroni fala sobre um sonho que teve enquanto jantam. O problema desse padrão de comportamento é que passa a impressão de estar em um modo automático, apresentando às vezes um tom artificial que colabora com a ideia de distância, entretanto destoa da natureza do filme. Por outro lado, a personagem da filha do casal traz uma leveza e jovialidade impressionante para suas cenas, o que pode ser visto especialmente na cena do caminhão em que mãe e filha desabafam, cada uma a sua forma.

Cena de As Melhores Noites de Veroni.

Inserimos-nos na realidade da personagem a partir de planos longos e estáticos, assim como leves movimentos, como a aproximação da câmera durante a interação entre marido e esposa na mesa de jantar. A direção de arte cuidou para manter seus pés no mundo em que vivemos, ao mesmo tempo apostando em cores que ressaltam emoções. Em nome do realismo também é trabalhado o áudio, que se limita somente a utilizar de sons diegéticos, aqueles que se fazem presentes no momento que a cena ocorre, numa bem efetuada estratégia de direção que busca fazer o público ser absorvido pelo quadro e guiado pelas personagens.

Ainda que se manifeste aqui e ali o sentimento de falta, momentos da narrativa que a montagem não liga de forma tão coesa, As Melhores Noites de Veroni mantém o interesse e flui com o público graças a sua paixão, seja pela personagem ou por aquela realidade que é vivida por tantas outras famílias do Brasil. Levando a filha para casa, cuidando de seu apartamento ou prestes a pisar em um palco, a personagem de Laís Lira esbanja carisma para nos levar por uma jornada que não é um filme perfeito, mas cativa.

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