Depois de tanta espera e especulação, Bacurau chega aos cinemas, o terceiro longa-metragem de um dos mais conceituados diretores de cinema do cenário nacional e contemporâneo, Kleber Mendonça Filho em codireção com Juliano Dornelles.
Bacurau conta a história de uma pequena cidade no interior de Pernambuco que, digamos, é vítima de estranhos acontecimentos. Para não entrar em maiores detalhes e antecipar o que eu diria ser uma das melhores experiências cinematográficas do ano, pode-se revelar que não se trata de mais um drama brasileiro. Aqui, temos um roteiro que flerta com a ação, o mistério e até mesmo o gênero de faroeste.
No começo da obra, pensamos até ser mais um filme que retrata o precário cenário que é o interior do Nordeste, como se pode ver em outras produções nacionais, por exemplo, no popular Cine Holliúdy (Dir. Halder Gomes), no clássico No Alto da Compadecida (dir. Guel Arraes) ou no conceitual Boi Neon (dir. Gabriel Mascaro).
Kleber retratou a mais alta sociedade de Recife em seus longas. Em Som ao Redor, é mostrada a vida de toda uma vizinhança de classe média alta recifense, assim como Aquarius retrata a vida de uma solitária mulher da alta sociedade.
No filme é possível conhecer o dia a dia dos moradores de Bacurau, representado com um humor e realidade que só quem é da região pode reconhecer. Entretanto, não demora para que a história se entrelace com uma série de acontecimentos misteriosos, saindo totalmente da zona de conforto e daquilo que o espectador brasileiro está acostumado a assistir com seu cinema.
Passamos a maior parte do tempo sem uma certeza do que se passa, o que poderia ser um ponto de descontentamento para a maior parte do público. Porém, a astúcia e habilidade técnica de Kleber nos presenteia com cenas tão envolventes e divertidas que não permitem o aborrecimento diante da ausência de uma explicação maior.
Com o uso de zooms constantes, planos abertos e uma coloração majoritariamente saturada, a construção de mundo de Bacurau é impecável. O talento em contar histórias sem rodeios ou grandes cerimônias é tão presente aqui quanto em seus longas anteriores, ou seja, por mais aclamado e especulado que esse filme seja, não deixa de ter uma simplicidade em se mostrar e um ritmo próprio, sem grandes promessas de ser um espetáculo cinematográfico – o que, na verdade, acaba sendo.
Repleto de atuações cativantes e temáticas originais, contadas com graça e intensidade nos momentos mais certeiros, Bacurau mostra-se um filme absolutamente indispensável para o repertório de qualquer brasileiro minimamente interessado pela sétima arte.
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