Crítica: Barreiras: histórias e relatos de Pessoas com Deficiência frente ao capacitismo (dir. Edmilson Sá)

Texto: João Santos. Revisão: Tati Magalhães

Tocou-me pela sinceridade, pela humanidade e pela veracidade

Existe um tipo de percepção sensorial que uma obra artística pode propiciar: uma em que o valor técnico não seja o culpado de sua percepção, mas a tentativa constante de fazer o telespectador sentir que a obra é importante para quem fez.

“Barreiras: histórias e relatos de Pessoas com Deficiência frente ao capacitismo” é um filme que, apesar de conter falhas técnicas perceptíveis, em nenhum momento é falso com seu telespectador, ele é sincero ao extremo e sua sinceridade crua é de tamanha poesia que agradeço sua necessidade de assim ser.

Filmes documentários que se prendem a relatos podem tender a ser desinteressantes à medida que não conseguem ter qualquer aprofundamento dos personagens ou dinamismo, utilizando personagens como meros peões de um tema. No entanto, “Barreiras” quebra com esse paradigma ao criar uma forma de linguagem acessível em seu núcleo cinematográfico.

Eu sinto que é necessário, já que o filme pressupõe ser sincero, eu há de ser: não sou PCD. Dito isso, a utilização de audiodescrição criou no filme uma percepção poética engrandecedora. Ao ouvir a descrição em momentos de silêncio, senti uma mudança de percepção, pois em muitos momentos percebi o que seria relevante ao diretor em seus personagens.

A forma como o texto do filme não reduz seus personagens transforma toda a discussão em uma unicidade, ao mesmo tempo que deixa com que aqueles personagens sejam únicos por si, por meio de suas próprias escolhas de palavras. É de tremendo elogio a escolha das perguntas, pois foi delas que foi capaz de transpor tamanha qualidade carismática de cada um.

A escolha de cenário e câmera diz tanto quanto as falas: a cadeira de rodas ao lado da escada, um cristão ao lado de suas esculturas de Maria, uma porta que mostra um dos personagens que fala mais em seus movimentos que palavras, uma casa em que a porta são cortinas. Todas essas escolhas do que foi mostrado me contam tanto sobre aqueles indivíduos. São essas exatas construções de cenário que me fazem sentir na pele deles, e suas falas me fazem entendê-los.

A escrita dos intertítulos em máquina de escrever, como se para cada detalhe, cada palavra, houvesse uma sensibilidade e um cuidado, e, mesmo todos os problemas técnicos que surgiram, como os áudios e problemas de foco, não afetaram a experiência poética e bela de uma veracidade sensível. Tocou-me no mais âmago do ser. Não existe forma mais humana de contar histórias do que com sinceridade intelectual, emocional e racional.

Be the first to comment

Leave a Reply

Seu e-mail não será divulgado


*