Crítica: Crisálida (dir: Igor Ferreira Domingos)

Texto: Larissa Ferreira. Revisão: Leonardo Dias

O curta experimental de Igor Ferreira nos transporta para uma poética viagem ao interior de si mesmo, nos questiona se voltaríamos ao primeiro lar em que moramos, qual a cor desse lar e se, pudesse escolher, você mudaria a sua? As imagens fotográficas em preto e branco ilustram a voz de um homem negro em meio a natureza. O som dos pássaros e insetos nos convida a adentrar nessa exploração do ser, o ser negro e então somos levados a imaginar se fossemos capazes de mudar nosso exterior através de uma crisálida, o que faríamos? 

Uma crisálida é o estado intermediário de repouso entre a larva e o inseto perfeito e o fato de estabelecer este paralelo, conceber a ideia de um ser humano passar por um estágio de desenvolvimento tal qual um inseto, para modificar a cor de sua pele, escancara as dores e feridas que o racismo é capaz de causar. 

Crisálida nos faz pensar o inimaginável, especialmente se a cor da sua pele nunca foi algo que dificultou seu acesso a lugares, oportunidades, afetos e sonhos. E faz isso de forma delicada, poética, quase sutil, uma sutileza que a realidade quase nunca deixa espaço. Uma obra de arte política e estética sobre a vivência e sensibilidade de corpos negros, uma partilha honesta de questionamentos íntimos que é forte, necessária e urgente de ser falada, sentida e praticada. Esse é Crisálida: ato poético; ato político.

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