Crítica: Curtas de Larissa Lisboa

Texto: Nathalia Bezerra. Revisão: Larissa Lisboa

É possível traçar um fio entre os seis curtas-metragens dirigidos por Larissa Lisboa, selecionados para exibição no 1º Festival de Cinema Curta Pilar, que acontecerá entre os dias 23, 24 e 25 de agosto de 2024. Acompanho os diferentes trabalhos de Larissa nas artes visuais, tanto nas experimentações em @larefletida – nas imagens refletidas em diversas superfícies – quanto em @afetocollage – nas rodas de conversas, recortes e colagens manuais – e nos coloca diante da interlocução destes ofícios com o audiovisual: vejo em cada um deles a marca de uma criação que se faz manual e artesanalmente. 

O ofício da montagem, da colagem e de realizar, com as imagens, um verdadeiro mosaico é uma das características de Larissa que aqui, nestes curtas, se fazem presente: a necessária inventividade, que a faz transitar por diferentes linguagens e formas na composição de seus filmes. E é esta uma das características que, para mim, mais se sobressaem nos curtas: a experimentação. 

A necessidade quase tátil de encontrar novas formas de olhar e de registrar as passagens são percebidas tanto nas casas invertidas em Casario, nas árvores e fuxicos de Refletida retrô 01, nas sombras ensolaradas de Mirar, nas saudosas lembranças não-entregues em Negativo, na janela de um trem maceioense em indefinido e, sobretudo, nos recortes e colagens feitos em seu artista

Os curtas são ambientados em três diferentes cidades: em Maceió/AL, foram feitos indefinido, negativo e seu artista; em Penedo/AL, os curtas Casario e Mirar; e em Tiradentes/MG, as imagens de refletida retrô 01. Entre reflexos e casas, memórias e janelas. 

Pelo ofício compartilhado de fotógrafa, me interesso imensamente pela imagem e pelos momentos em que é predominante a cena, sem que necessariamente exista um texto. Talvez por este motivo me vi tão capturada pelas cenas de Mirar, cuja sensibilidade me carregou diante das luzes e sombras, pelo movimento e pela pausa. Nesse mesmo sentido, também me vi absorvida pelas tantas imagens despertadas por seu artista: nesta ótica do movimento, são inventadas diversas possibilidades de sentido, de forma que se percebe uma palavra ou movimento diferente em cada detalhe, em cada trânsito. 

Em Casario e em refletida retrô 01, vemos diferentes cidades, cujas casas e janelas são capturadas de formas distintas: no primeiro, pelos reflexos; no segundo, entrecortado pelas árvores e pelas ruas da cidade. Noto a forma como a composição, às vezes, pode seguir uma temática semelhante, mas com formas diferentes de olhar e de se relacionar com a imagem. 

Um outro aspecto que me capturou foi a narração. Por isto, meu ofício de amante das palavras também aparece e me impede de não me sentir atraída pelos curtas em que a narração aparece e nos faz compartilhar de uma outra forma de narrativa. 

Em indefinido e em negativo, pode-se fazer parte deste jogo entre a imagem e a palavra: com o convite de escutar as histórias que permeiam cada um deles, na intimidade com que Larissa nos conta da sua primeira experiência com a fotografia de stop motion e, por outro lado, com a experiência com os negativos não entregues de sua festa de aniversário de 15 anos. Entre a presença e a ausência, é interessante notar como dois modos de narrar a si mesma produzem efeitos de nos aproximar de quem fala e de quem nos lança esse convite de adentrar no texto e na cena também de um outro modo: pela voz. 

O stop motion é um dos recursos utilizados por Larissa na composição de seu artista e, além disso, o stop motion aparece também como temática em indefinido, nos aproximando das formas e das suas primeiras experiências. É interessante que apareça, no conjunto dos curtas, não somente como um recurso e uma técnica, mas também como temática e como parte das memórias afetivas da diretora. 

Cada um dos filmes, a seus modos, possuem a particularidade de propor olhares outros sobre a cidade, sobre as ruas, sobre as janelas, as casas, os caminhos de trem. Aproximar-se destas experimentações realizadas, dirigidas, montadas e produzidas por Larissa no audiovisual é uma forma interessantíssima de revisitar nossas próprias memórias, pois trata-se de um convite a realizar novas montagens e criações com o cotidiano.

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