Crítica: Ditadura Roxa (dir. Matheus Moura)

Texto: Cristiana Maia. Revisão: Thame Ferreira.

True Colors  (Ditadura Roxa)

“Como é difícil ser você mesmo, cuidado com o que você pode se transformar”

Ditadura Roxa, do diretor Matheus Moura, grita verdades desconfortáveis com a voz aquática, robótica, onde se faz necessária a tradução.

Segurem-se ao serem lançados de cabeça nessa distopia, onde pessoas Verdes e pessoas Roxas vivem em universos paralelos embora, paradoxalmente, se cruzem.

A desigualdade predomina e o clima pesado é reforçado pela paleta de cores azulada e escura dando um tom frio, opressor, triste.

Se por um lado as pessoas Verdes representam os que estão à margem da sociedade, os Roxos são criaturas distantes. Inalcançáveis, com hábitos,  atitudes, valores diferentes dos Verdes. Ou seja, sem  apego emocional as suas raízes, sem aparente compaixão ao que não lhe é igual e supervalorização de um sucesso financeiro. Conseguimos perceber isso na frase dita no jantar de apresentação da “vencedora”:

-Essa raiz emocional só atrapalha sua adaptação.

Toda ideia de pertencimento, de identificação, precisa ser jogada fora para que a tal felicidade Roxa seja encontrada. Esta, regada por vinho, champanhe, luxo e solidão. O que é vendido como uma troca de lixo por luxo pode levar o indivíduo a se sentir como no quadro da sala de jantar (um peixe fora d’água).

A narrativa ainda aborda a religião como forma de controle, evidenciando o papel de figuras da classe Roxa, desde padres a santos, dificultando a empatia e a identificação dos Verdes. Estes parecem sempre estar, de forma mecânica, buscando auxílio na fé, usando um terço roxo com figuras de adoração sempre de rostos arroxeados e líderes religiosos que procuram evidenciar que não são como eles.

A mídia é outro instrumento de venda da realidade Roxa como único caminho para uma vida feliz. Tenha coragem de se fazer as perguntas que o curta te lança e você verá que qualquer semelhança com nossa realidade paradoxal não é mera coincidência.

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