crítica: do circo à lona (dir. claudkelves alves)

TEXTO: nathalia bezerra. REVISÃO: Tatiana Magalhães. Imagem: divulgação

do circo à lona, mas não sozinho

É como se o circo fosse o que acontece exatamente nesse intervalo entre montar e desmontar a tenda. Ou talvez o circo seja o que ganha vida no ato de chegar e ir embora. Durante o período pandêmico, o ato de ir foi suspenso e o Circo África do Sul permaneceu no mesmo local, no bairro de Fernão Velho, por mais de um ano. a falta de movimento e de mudança de lugar aparece, nas falas, com aperreio e saudade. parou o circo, parou minha vida também. a forma como se repete durante o documentário como o circo amarra a vida, ou do contrário: como a vida se amarra e faz contorcionismos ao próprio circo. como se fosse nesse lugar que se fosse possível agarrar-se a esses fios de onde a vida pulsa. aqui, o circo deixa de ser também palco e lona pra ser também um espaço casa. a família inteira mora no circo. vive de circo, respira circo. ama o circo. e se parar o circo, a vida também para. talvez por isso que fique a sensação tão forte de fazer da rua um palco, e de fazer cada rua nova que se habita uma nova casa.

a sinceridade que beira o visceral dos relatos faz contraponto com as cenas iluminadas e dançantes do espetáculo de circo. é nesse contraste, também, que se pode contar uma história que nem é toda melancolia e saudade, e nem é toda explosão de cores e magia. parou o circo, parou a minha vida também. é uma história contada que existe passando por esses contrastes: a montagem, desmontagem, a vida, a morte, o movimento, a suspensão. todas essas imagens coexistindo ao mesmo tempo e materializando mais ainda a urgência do circo como vida. se pro circo o importante mesmo é o brilho, o filme também registra os movimentos de corpo e a paixão pelo movimento, pelas luzes e pela música vibrante que acontece quando o espetáculo acontece. o filme se inicia com a montagem e se encerra com cenas de um espetáculo que acabou de começar: talvez como uma faísca de que não se encerre ali. ou de que ainda é só o começo. o circo e a vida não vão parar.

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