Texto: Lucas Espíndola. Revisão: Tati Magalhães.
NÃO HÁ NADA DE SEXUAL POR AQUI
Diante de um espaço pequeno e invasivo para Vânia, vemos uma naturalidade inquietante sobre tudo que está sendo sugerido. Passamos a conhecer a personagem, que nos revela o que aparenta ser algum tipo de fetiche sexual, nos fazendo projetar que as figuras masculinas que a rondam sejam apenas o pontapé para algo maior.
O filme apresenta integrações muito bem justificadas e exploradas, através dos indícios de um trauma que reverbera em uma pessoa com eloquência e tímidos gostos não esperados para alguém da sua idade. Além disso, esses indícios também nos mostram que lhe foi tirada uma parte importante e intocável da sua vida, e que lhe foi devolvido um emaranhado de percepções distorcidas e um trabalho para ajudá-la a lidar com isso.
Ainda que esteja vivendo uma existência cruelmente imposta e naturalizada, em algum momento, Vânia construiu algo com o que aprendeu no ateliê de costura. Agora sem ação direta de alguém e, pela primeira vez, à sua maneira e ao seu poder.
Ela costura, não aqui com linha e tecido, mas com seus fluidos, que se tornam o fio condutor de uma colcha de retalhos não sexuais em uma parede vazia. Sim, o que Vânia vem construindo não é algo sexual, mas uma conjuntura de poder. Poder que cresce diante dela como um monumento digno de ser glorificado e, aí sim, gozado. E o que restou da sua inocência ainda tenta naturalizar a curiosidade daqueles corpos-troféus, ao ver gravuras infantis sobrepondo o que poderia haver de mais explícito nas fotos.
O som de um corpo que se masturba em uma cadeira, de maneira constante, mecânica, sem gemido ou qualquer coisa que nos indique o mínimo de “prazer esperado” saltou da tela, nos mostrando que um novo ciclo ocorreria e que não havia o menor indício de que uma importante parte da vida de Vânia pudesse arrancar toda a crueldade que lhe foi imposta e descansar no lugar onde jamais deveria ter sido violada.
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