Texto: Jasmelino de Paiva. Revisão: Larissa Lisboa.
Imaginários urbanos. Um exercício de aproximação.
“Toda história de um povo principia pelo mito.
Toda gênese se emoldura na lenda.
Todo início se desenha no vago.”
Imaginários Urbanos inicia sua narrativa. A história, tal como a vejo, é o que se propõe. Um estudo de si mesma. Observa-se o tempo inteiro. Como quem se analisa em frente a um espelho.
Os olhos do filme incitam-me a olhar Maceió mais de perto. A cidade onde eu e o filme somos ambientados. Essa aproximação leva-me à gênese das minhas próprias contradições como sujeito coletivo consciente.
Por ser essencialmente um filme de montagem, há a interação física e epistemológica entre os sujeitos que habitam as cidades e os espaços que a compõe. Os dois se confluem nas composições apresentadas. O corpo estampa a paisagem e a paisagem mapeia o corpo. O registro das composições integra o que está sendo observado. Em alguns momentos a câmera é ébria e desamarrada, mas sempre em busca de algo que lhe seduza.
Sob a ótica do imaginário que se apresenta, os sujeitos e a realidade que os circunda nos contextos urbanos precisam, necessariamente, convergirem. O filme posiciona a cidade como um campo onde se disputam narrativas. E a arte é posta como força que pode nutri-las. Partindo da mesma premissa da obra, a pesquisadora Vera Pallamin propõe que a arte urbana é uma prática social. A produção artística como necessidade de expressão, portanto, deve apropriar-se da conjuntura urbana que está inserida como forma de alterar suas características físicas e sentimentais e, por fim, cumprir seu papel integrador.
O curta tem como premissa a relevância social da aproximação entre as diversas formas de expressão humana e os espaços que são habitados. Em termos práticos, não há como separar o sujeito do espaço, pois os dois se retroalimentam, especialmente numa conjuntura urbana. É através da arte, partindo do recorte da obra, que as contradições são postas às nossas caras. Ocupar, transitar e dialogar com os espaços e com os sujeitos é o que é sugerido plano após plano. Porque somos frutos do meio e como tais somos afetados por ele na mesma medida que o afetamos.
O filme se aproxima da invisibilidade dos bairros da lagoa e dos corpos que os ocupam. Imaginários Urbanos nos convoca a percorrer a cidade enquanto a percorre. À disputa-la. O lixo e o luxo coabitam de maneira irracional nessa dialética. O apartheid é uma realidade. O filme escancara o não visto, apagado de nossos imaginários.
O cinema e a cidade são um campo de batalha onde as contradições fazem morada e, por óbvio, precisam ser revolucionados. Se os sujeitos não se apropriam de suas próprias pautas e espaços, outros o farão. Fazendo da provocação do filme a minha, indago: Onde você está enquanto a revolução acontece?
Obrigado pela crítica, por expor seu entendimento e seu conhecimento, por ter visto o filme!