Texto: Dálete O’Hana dos Santos Santana. Revisão: Chico Torres.
Rupturas
“Eles caminham. Não conseguem respirar.” A sensação de estarmos sem ar nos leva a dois caminhos: à asfixia ou à busca desesperada por essa fonte de vida. Tal como ir à lua, nem todos conseguem superar a raridade do ar. Mas isso não é apenas uma questão fisiológica, a impossibilidade de respirar, o desespero pela falta de algo ou pela busca constante do mesmo são questões que cercam a vida em sociedade. E, de tempos em tempos, a história se repete. Podemos ver que as cenas desse curta-metragem conectam passado, presente e futuro, pois expõem a ainda inalterável condição sufocante dos “sem vagas”, daqueles sujeitos marginalizados, da minoria que tenta, a todo custo, tomar a parte que lhe cabe no todo, fazer parte.
Nessa “corrida espacial”, há um ritmo a ser seguido, é perceptível uma sintonia rítmica quando nos deparamos com copos dançando, pernas mexendo, homens correndo, entretanto, quebra-se o copo, tremem-se as pernas, cansam-se os homens, perde-se o compasso, a pulsação se esvai, nem todos conseguem acompanhar. Vemos uma linha de partida e outra de chegada, mas sabemos que, afinal, dada a largada, a linha de partida não é a mesma para todos, tampouco os obstáculos que precisamos enfrentar. Estamos cercados. E, nessa maratona chamada vida, como ultrapassar, atravessar, o muro que nos cerca?
As pessoas apressando-se para “pegar” ar, numa desenfreada luta, adoecem, morrem. Afetados pelas diversas patologias sociais, elas clamam por ar, por espaço, por igualdade. Talvez, o fato de as cenas não estarem encadeadas de acordo com a lógica tradicional cinematográfica, afinal, elas se interpõem em uma sequência na qual as ações acontecem simultaneamente, mas em espaços diferentes, nos desconcertam, geram desordem, provocam em nós uma certa angustia, uma falta de ar.
Essa inquietação que o curta Muro dirigido por Tião, nos faz sentir, ao traduzir os sintomas do mundo, suscita o desejo e a necessidade de mudanças na relação entre pensar, ver e fazer. É preciso destruir muros e desfazer fronteiras.
Leave a Reply